FOLCLORE DE TODOS OS POVOS

FOLCLORE DE TODOS OS POVOS
É tempo de Recomeçar... Amigos das ArtesPopulares, internautas quero saudar a visita de todos neste novo Blog do prof. Clerton Vieira que preparei com todo o carinho para que vocês possam ter cada vez mais informações sobre as novidades do Folclore do Brasil e do mundo. Aqui você estará atualizado com as notícias dos Festivais folclóricos e eventos populares que acontecem no mundo da cultura popular. Convido a todos a embarcarem comigo nessa longa jornada. Venham fazer parte desse trabalho de pesquisa, valorização e divulgação das nossas tradições e manifestações populares. Sejam bem vindos todos os internautas, folcloristas, artistas, alunos, professores, profissionais, amadores pesquisadores, estudiosos e curiosos. Boa navegação pelo blog. Muito obrigado. Deixem seus comentários e sugestões através do e-mail:clertonvieira@hotmail.com - Professor, Clerton Vieira

FOLCLORE E CURIOSIDADES POPULARES

Como foram escolhidos os nomes dos meses?

O calendário que usamos hoje é uma evolução do antigo calendário romano, no qual vários meses foram batizados com nomes de deuses pagãos. O primeiro calendário romano, criado no século 8 a.C., tinha só dez meses e ia de março a dezembro. Ainda no mesmo século foram acrescentados janeiro e fevereiro, ajustando o calendário ao ano lunar padrão, com 355 dias. Nessa época os 12 meses já haviam sido batizados com praticamente todos os nomes que usamos hoje. As exceções foram julho e agosto, que receberam esses nomes centenas de anos depois - entre os séculos 1 a.C. e 1 d.C. - quando o calendário romano já havia sido adaptado ao ano solar, com 365 dias.

DOS DEUSES AOS MORTAIS

Os líderes romanos Júlio César e Augusto foram os últimos a ser homenageados no calendário

JANEIRO

O nome deriva de Jano (Ianuarius, em latim), deus romano com duas faces e espécie de "porteiro celestial". A palavra latina ianua significa "porta", e o mês de janeiro representa justamente a entrada para um novo começo, um novo ano.

FEVEREIRO

O termo vem do latim februmm, que significa "purificar". Baseado também em um ritual de purificação romano, chamado februa, que acontecia sempre no 15º dia desse mês no antigo calendário criado pelos romanos.

MARÇO

A inspiração foi o deus da guerra, Marte - o nome do mês era martius, quando março abria o ano no primeiro calendário romano. No hemisfério norte, esse período corresponde ao início da primavera, época boa para o começo de campanhas militares.

ABRIL

Existem duas versões mais aceitas. Uma é que o mês vem de aperire, "abrir" em latim, o que lembraria a primavera e o desabrochar das flores. A outra versão vem de uma comemoração sagrada, aprilis, feita em nome de Vênus, deusa do amor.

MAIO

Nome baseado em comemorações que honravam duas deusas romanas identificadas com a primavera e com o crescimento de plantas e flores, Maia e Flora. As celebrações ocorriam no primeiro dia desse mês.

JUNHO

Outro mês com divergências sobre a origem do nome. Uma versão aponta que seria uma homenagem a Juno, deusa romana protetora da família e dos partos. Outra teoria diz que deriva do nome de um clã romano chamado Junius.

JULHO

No primeiro calendário romano, era chamado de quintilis, pois era o quinto mês do ano. Séculos depois, no ano 44 a.C., foi rebatizado em homenagem ao grande líder romano Júlio César (Julius Caesar, em latim), que fora assassinado.

AGOSTO

Como era o sexto mês do ano no velho calendário romano, recebia o nome de sextilis. Também foi rebatizado para homenagear outro grande líder, Augusto, que se tornou o primeiro imperador romano.

SETEMBRO A DEZEMBRO

Para esses meses faltou inspiração... Setembro vem de septem, que significa "sete"; outubro, de octo ("oito"), e assim por diante. Ou seja, eles conservaram no nome a mesma posição que tinham no primeiro calendário romano.

 Danilo Cezar Cabral


A carta em que William John Thoms a palavra folk-lore saiu publicada num 22 de agosto. Então, por decretos, criaram essas datas, Dia do Folclore, Mês do folclore. Criações desse tipo dão a falsa idéia de que folclore só existe em agosto, os professores ficam em polvorosa, todos chegando de férias e preparando aulas às pressas, todos querendo visitar o Museu do Folclore de São Paulo na mesma data, sem lembrar que folclore é cultura do cotidiano e começa na casa de cada um.
Dalva Soares Bolognini (coodenadora do Museu do Folclore de São Paulo)

Folclore

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Folclore é um gênero de cultura de origem popular, constituído pelos costumes e tradições populares transmitidos de geração em geração. Todos os povos possuem suas tradições, crendices e superstições, que se transmitem através de lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo. É comemorado no dia 22 de agosto.
A Carta do Folclore Brasileiro, em sintonia com as definições da UNESCO, declara que folclore é sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação.
Deve-se lembrar que o folclore não é um conhecimento cristalizado, embora se enraíze em tradições que podem ter grande antiguidade, mas transforma-se no contato entre culturas distintas, nas migrações, e através dos meios de comunicação onde se inclui recentemente a internet. Parte do trabalho cultural da UNESCO é orientar as comunidades no sentido de bem administrar sua herança folclórica, sabendo que o progresso e as mudanças que ele provoca podem tanto enriquecer uma cultura como destruí-la para sempre.


História


O interesse pelo folclore nasceu entre o fim do século XVIII e o início do século XIX, quando estudiosos como os Irmãos Grimm e Herder iniciaram pesquisas sobre a poesia tradicional na Alemanha e "descobriu-se" a cultura popular como oposta à cultura erudita cultivada pelas elites e pelas instituições oficiais. Logo esse interesse se espalhou por outros países e se ampliou para o estudo de outras formas literárias, músicas, práticas religiosas e outros fatos chamados na época de "antiguidades populares". Neste início de sistematização os pesquisadores procuravam abordar a cultura popular através de métodos aplicados ao estudo da cultura erudita O termo folclore (folklore) é um neologismo que foi criado em 1846 pelo arqueólogo Ambrose Merton - pseudônimo de William John Thoms - e usado em uma carta endereçada à revista The Athenaeum, de Londres, onde os vocábulos da língua inglesa folk e lore (povo e saber) foram unidos, passando a ter o significado de saber tradicional de um povo. Esse termo passou a ser utilizado então para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, o termo passou a designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, dando ao folclore o status de história não escrita de um povo. Mesmo que o avanço da ciência e da tecnologia tenha levado ao descrédito muitas dessas tradições populares, a influência do pensamento positivista do século XIX contribuiu para dignificá-las, entendendo-as como elos em uma cadeia ininterrupta de saberes que deveria ser compreendida para se entender a sociedade moderna. Assim, com a conscientização de que a cultura popular poderia desaparecer devido ao novo modo de vida urbano, seu estudo se generalizou, ao mesmo tempo em que ela passou a ser usada como elemento principal em obras artísticas, despertando o sentimento nacionalista dos povos.
Depois de iniciar e frutificar na Europa, o estudo do folclore se estendeu ao Novo Mundo, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX através dos precursores Celso de Magalhães e Sílvio Romero, e aos Estados Unidos, onde William Wells Newell, Mark Twain, Rutherford Hayes e um grupo de outros eruditos e interessados fundaram em 1888 a American Folklore Society, que de imediato iniciou a publicação de um jornal que continua em atividade até hoje, o Journal of American Folklore. A contribuição dos folcloristas norte-americanos foi especialmente importante porque desde logo suas pesquisas foram apoiadas pelas universidades e adquiriram autonomia, definindo novas fronteiras metodológicas e lançando as bases para a fundação do folclorismo como uma nova especialidade científica, paralela à Antropologia.




O folclore na sociedade contemporânea

Atualmente o folclorismo está bem estabelecido e é reconhecido como uma ciência, a ponto de tornar seu objeto, a cultura popular ou folclore, instrumento de educação nas escolas e um bem protegido genericamente pela UNESCO e especificamente por muitos países, que inseriram muitos de seus elementos constituintes em seus elencos de bens de patrimônio histórico e artístico a serem protegidos e fomentados.
Considera-se hoje o folclorismo um ramo das Ciências Sociais e Humanas, e seu estudo deve ser feito de acordo com a metodologia própria dessas ciências. Como parte da cultura de uma nação, o folclore deve ter o mesmo direito de acesso aos incentivos públicos e privados concedidos às outras manifestações culturais e científicas. Segundo Von Gennep,

O folclore não é, como se pensa, uma simples coleção de fatos disparatados e mais ou menos curiosos e divertidos; é uma ciência sintética que se ocupa especialmente dos camponeses e da vida rural e daquilo que ainda subsiste de tradicional nos meios industriais e urbanos. O folclore liga-se, assim, à economia política, à história das instituições, à do direito, à da arte, à tecnologia, etc, sem entretanto confundir-se com estas disciplinas que estudam os fatos em si mesmos de preferência à sua reação sobre os meios nos quais evoluem..

Apesar de existir uma metodologia específica para o estudo contemporâneo do folclore, já existe a consciência de que o impacto dos novos meios de comunicação sobre as culturas, populares ou eruditas, está a exigir uma reformulação nos conceitos e sistemas de análise. Já não são raros os elementos do povo que usam gravadores, câmeras de vídeo, internet ou outros meios de alta tecnologia para o registro e difusão das manifestações folclóricas, tornando a delimitação do campo de estudo e a caracterização do fato folclórico cada vez mais difíceis. Roberto Benjamin, presidente da Comissão Nacional de Folclore do Brasil em 2001, declarou que:
 Características do fato folclóricoPara se determinar se um fato é folclórico, segundo a UNESCO, ele deve apresentar as seguintes características: tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade e aceitação coletiva,.
O QUE SE ENTENDE SOBRE FOLCLORE? 

O Folclore é: O conjunto de manifestações de caráter popular de um povo, ou seja, é o conjunto de elementos artísticos feitos do povo para o povo, sempre ressaltando o caráter de tradicional destas representações, sempre transmitidas  de uma geração para outra através da prática (os pais ensinam aos filhos, que desde pequeninos já praticam). O folclore varia bastante de um País para o outro, e até mesmo dentro de um Estado é bastante variável, pois as diferenças entre as regiões são muito grandes. No caso do Brasil  o folclore foi resultado da união da Cultura a partir da miscigenação de três povos (Europeu, Africano, Ameríndio). O que resultou é que em muitas regiões brasileiras o folclore é muito diferente, pois devido às influências de cada um destes povos formadores do Brasil, algumas regiões apresentam uma maior tendência a uma origem mai1s detalhada, por exemplo, no Nordeste na zona Litorânea as presenças das influências indígenas, Portuguesas e negra são que quase igualadas, já mais para o Sertão, a presença da Cultura negra não é muito marcante como no litoral.
Lembrando que as manifestações folclóricas brasileiras, na sua grande maioria são manifestações de caráter de um povo mestiço, ou seja, sofrem influência de diversas raças, mas apresenta características próprias e que também a grande  maioria são manifestações completas em caráter artístico, pois possuem elementos do Teatro, Dança, Musica e Artes Plásticas.
O termo Folk-Lore foi empregado pela primeira vez em 22 de agosto de 1846. Donde fica agosto consagrado ao Folclore. Cultura, antropologicamente, é tudo aquilo que o homem faz, material e não materialmente, excluídas as necessidades fisiológicas. Também de difícil conceituação é a palavra povo. Aqui deve ser tomado como todos os participantes de uma comunidade. Folk-Lore, por ser formado de termos de duas línguas diferentes, leva a equívocos. Folk quer dizer povo; lore, o saber, o conhecimento, o costume. Pode-se afirmar: Folclore é o saber vulgar do povo. Não transmitido através de escolas e nem de livros e sim por imitação ou por força de tanto ver e ouvir. Para ser determinado como Fato inteiramente folclórico:
a) ser transmitido oralmente, de boca em boca, e não por meios eletromecânicos, como rádio, disco e livro.
b) ser social, praticado por muitos e não por uma só pessoa.
c) ser espontâneo, livre. Quando o professor dá um provérbio para ser analisado sintaticamente pelos alunos, aí não há o fato folclórico. Já quando dito pelo mesmo professor ou pelos anos, espontaneamente, para explicar ou justificar um fato, nesse caso há o fato folclórico.
d) ser anônimo, não se conhece o autor de superstição, de uma dança popular, de um provérbio ou adivinhas. 
O FOLCLORE BRASILEIRO

O folclore do Brasil é riquíssimo, um dos mais ricos do mundo. Para sua formação, colaboraram principalmente, além do elemento nativo (o índio), o português e o africano. Estes três povos constituíram, podemos dizer as raízes de nossa cultura. Posteriormente, imigrantes de outros países, como Itália e Alemanha, deram sua contribuição ao nosso folclore, tornando-o mais complexo e mais rico.
A tendência dos costumes de povos diferentes é, quando estes se relacionam de modo íntimo, construir expressões híbridas, ou seja, suas culturas se misturam, resultando em novas expressões de manifestação popular.
Como os grupos humanos influenciam uns aos outros, podemos dizer que o folclore não é uma ciência estática, morta. Ao contrário, ele é dinâmico, pois além de pesquisar o passado, tem de estar atento às transformações do presente.
O Brasil, vasto qual um continente, apresenta regiões distintas, onde há diferença de intensidade das influências dos povos formadores. Por outro lado, cada região possui seu gênero de vida de acordo com o meio ambiente, o que influi, também, no folclore brasileiro. A seguir, então, será narrada uma idéia geral dos vários desdobramentos do nosso folclore:
a) Linguagem Popular: gíria, apelidos ou alcunhas, legendas, linguagem especial ou cifrada, metáforas, frases feitas. Além da palavra há a mímica e os gestos. Assim, nós temos expressões utilizadas em todo o país (“tirar o pai da forca”, “está se virando”), compreendidos por todos, e expressões regionais, somente entendidas pelos habitantes da região (“gineteando” RS “Fute” dito na região NE).
b) Literatura Oral: poesia, história, fábulas, lendas, mitos, romances, parlendas, adivinhas, anedotas, provérbios, orações, pregões e literaturas de cordel, todos transmitidos oralmente;
c) Lúdicos: são os folguedos populares tradicionais, os jogos, os brinquedos e brincos. Exemplos: Bumba-meu-boi (NE), Caboclinhas (PB e RN), Cavalhadas (RS, AL, PR e SP), Ciranda (PE), Congada (SP, ES, BA, MG, GO, PR, RS), Cordões de Bicho (AM), Fandango, conhecido em todo o Brasil e, ainda Guerreiros, Mamulengo, Maracatu, Moçambique, Pastoril, Quilombo e Reisado.
d) Música: a música folclórica está presente em quase todas as manifestações populares. A serenata, coreto, cantigas de rixa, bendito, cantigas de cego, cantos de velório e cânticos para as almas são formas de músicas folclóricas.
e) Crendice: (Superstições) as de caráter ativo se manifestam em regiões, cultos dos santos, seitas, cultos de fetiches; e as de caráter passivo nos presságios, esconjuros, orações, tabus e totemismos. Contam com patuás, relíquias, amuletos, talismãs, bentinhos e santinhos.
f) Usos e Costumes: ritos de passagens, usanças agrícolas, pastoris, medicina rústica e trajes.
g) Artes Populares e Técnicas Tradicionais: culinárias, rendas e bordados, cerâmicas e trabalhos artesanais.
A comemoração  do  Dia  do  Folclore  é  a  22  de  agosto,  data  em que a palavra folclore foi empregada pela primeira vez.


RETRATO MULTICOLORIDO
Lendas, festas, aromas, sabores, enfeites, danças, músicas, trajes típicos, manifestações populares. Bem-vindo ao universo do folclore brasileiro! De norte a sul, as tradições regionais compõem um retrato multicolorido de nosso país. Embarque nesta viagem. Há um mundo incrível à sua espera!

Lendas

As Lendas no Brasil de inúmeras variedades, influenciadas diretamente pela miscigenação na origem do povo brasileiro. Devemos considerar que lenda não significa mentira, e nem verdade absoluta, o que podemos e devemos deduzir é que uma história para ser criada ,defendida e o mais importante, ter sobrevivido na memória das pessoas,ela deve ter no mínimo um pouco de fatos verídicos.
Muitos historiadores, pesquisadores, folcloristas, e outros profissionais que estudam Sociedades, tendem a afirmar que lendas são apenas frutos do imaginário popular, porém como sabemos as lendas em muitos povos são
 “os livros na memória dos mais sábios".
A diferença entre Mito e Lenda é a seguinte, O Mito é o Personagem a qual a lenda trata, pois a Lenda é a História sobre o determinado Mito.


RITMOS E TRADIÇÕES DO BRASIL

O Brasil possui um dos folclores mais ricos de todo o mundo. São danças, festas, comidas, obras de arte, superstições, comemorações e representações que, pelos quatro cantos do país, exaltam a nossa cultura. Se o Sul e o Sudeste brasileiros são regiões em que as manifestações folclóricas têm ocorrido com menor intensidade, por causa de crescente industrialização das cidades, no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste do País as tradições se mantêm cada vez mais vivas. Há muito tempo elas fazem parte da vida de muitas pessoas. Os hábitos do povo, que foram conservados através do tempo. Dia do Folclore 22 de agosto - Decreto no. 56747 de 17/08/1965.
Folclore é uma palavra de origem inglesa cujo significado é ''conhecimento popular''. As manifestações da cultura de um povo sejam através de suas lendas da sua alimentação, do seu artesanato, das suas vestimentas e de muitos de seus hábitos originais e os enrriqueceram com novos hábitos criados após a reunião. O folclore é passado de pais para filhos, geração após geração. As canções de ninar, as cantigas de roda, as brincadeiras e jogos e também os mitos e lendas que aprendemos quando criança são parte do folclore que nos ensinam em casa ou na escola. Fazem parte do folclore os utensílios que o povo fabrica para o uso de ornamentação, como as cestas de vime, e os objetos de cerâmica, madeira e couro. Os tecidos, a renda, os adornos de miçangas e penas, também existem ainda muitas outras atividades que fazem parte do folclore. O folclore é o meio que o povo tem para compreender o mundo. Utilizando a sua imaginação, o povo procura resolver os mistérios da natureza e entender as dificuldades da vida e seus próprios temores. Conhecendo o folclore de um país podemos compreender o seu povo. E assim passamos, a saber, ao mesmo tempo, parte de sua História. 
Festas Juninas: Em junho, o Brasil ganha arraiais coloridos. Escolas, ruas, praças e clubes são decorados com bandeirinhas, barracas e fogueiras para as festas dedicadas a São João, Santo Antônio e São Pedro. É hora de dançar quadrilha, participar de jogos e brincadeiras. Muitas são as delícias para saborear: pipoca, pé-de-moleque, canjica e paçoca de amendoim. Os mais corajosos enfrentam o pau-de-sebo, um tronco alto e escorregadio, difícil de subir. Quem quer namorar faz simpatias e pedidos para Santo Antônio, o santo casamenteiro. 
Bicho Brabo: O Bicho Brabo é uma tourada, que foi introduzida pelos portugueses na época do Brasil Colônia. Ainda hoje é comum em Mato Grosso, Goiás e São Paulo. A tourada é uma recreação popular, festiva, das zonas pastoris, e é realizada num circo ou área fechada, a arena, cercada por grossos palanques, revestida por traves horizontais bem resistentes. De vez em quando o toureiro precisa subir nas traves para se defender do boi... Em algumas partes do Brasil, principalmente em São Paulo, nem sempre é um boi que entra na arena para ser toureado. Às vezes entra uma vaca. Em ambos os casos as touradas são belos espetáculos de destreza e coragem. Os toureiros trabalham usando capas vermelhas para excitar o boi. Quando os toureiros fazem pegas, ou seja, agarram ou touros com as mãos, as fintas, que são os desvios e as derrubadas, entram os palhaços que alegram e divertem o público. Nesta tourada brasileira, não se mata o ''bicho brabo'', seja ele um touro ou uma vaca, tudo é um esporte, uma brincadeira no meio da arena cheia de sol e de alegria. 
O Carnaval: O Carnaval antigamente chamava-se, ''o entrudo'', onde a água, a farinha de trigo e o polvilho faziam a alegria de todos, fazendeiros e peões, brancos e negros. O entrudo chegou até a ser proibido, pois a elite pretendia transformá-la numa festa particular, somente em salões. Um grupo de foliões de rua, surgiu em 1846, chamado de Zé Pereira com bumbos e tambores, fazendo grande barulho depois das 22 horas de sábado. Depois surgiram os cordões, que começaram a se organizar e a desfilar pelas ruas do Rio de Janeiro. Existia cordão, só de homens, só de mulheres, ou de homens e mulheres, onde seja qual for a influência negra sempre foi visível, principalmente negros fantasiados de índios, tocando instrumentos primitivos. As escolas de samba são a maior atração do carnaval carioca. Os sambistas descem o morro, cantam e dançam nas ruas, com seu samba-enredo que falam tanto de personagens como de acontecimentos de nossa história. A primeira escola de samba surgiu no bairro do Estácio, em 1928. Mas, somente em 1952 as escolas começaram a se organizar em sociedades civis com sede e regulamento. E quando o desfile começa, surge o abre-alas e o porta estandarte com uma faixa que diz ''O SAMBA SAÚDA O POVO E PEDE PASSAGEM''. Tornou-se a festa mais popular do país, contando hoje em dia com uma fama notável no exterior, onde muitos estrangeiros visitam o Brasil só para ver o nosso Carnaval. 
Bumba-meu-boi: Dos folguedos brasileiros, o Bumba-meu-boi é um dos mais conhecidos e populares. Nos diferentes estados onde ocorre entre eles Maranhão, Amazonas e Piauí, recebe diversos nomes como Boi-Surubi, Boi-Bumbá, Boi-de-Mamão. Os personagens também variam por regiões. Pai Mateus, Cavalo-Marinho, Caipora e Maricotas de Corocó, entre outros, contam, dançando e cantando, a história da morte e da volta à vida de um boi. Essa dança dramática é realizada tanto nos festejos juninos quanto nos de Natal. No momento do renascimento do boi, os personagens dessa encenação gritam ''Bumba-meu-Boi''. 
Boi-de-Mamão: O folguedo do Boi-de-Mamão, no folclore catarinense, é uma das brincadeiras de maior atração popular. Existe no folclore brasileiro com os nomes mais diversos: Bumba-meu-boi, Boi-bumbá, Boi-de-Pano, etc. 
Catira: Estudada em Goiás por Luiz Heitor. É dança só de homens. Considerada versão do Catetetê paulista, é a mais brasileira de todas as danças, no dizer de Couto de Magalhães. Ao som das violas, catireiros palmeiam e batem pés alternadamente, em evoluções variadas de entremeio ao canto da ''moda'', dançando logo a seguir o Recortado. Uma boa Catira vara a noite nas festas das fazendas. Como explica Luiz Heitor, ''a grande arte dos catireiros está nos bate-pés e palmas, cujo ritmo é diferente a cada aparição de elementos coreográficos''. E arremata o Professor: ''A Catira é uma especialização coreográfica. Qualquer um não pode dançá-la''. E, acrescentamos, é preciso aprender desde menino.
Cabaçais do Carirí: O nome cabaçal é pejorativo, em virtude de a caixa, o zabumba e os pífaros - seus instrumentos básicos - fazerem um ruído semelhante a muitas cabaças secas entrechocando-se. São a dança e música, de ritmo forte, tanto que os cabaçais eram também chamados de ''esquenta mulher'', porque, à sua chegada ou passagem, o mulheril se afogueava... 
Dança de Congo: Citada por Hugo de Carvalho Ramos, dada como em extinção por Americano do Brasil (1973:262-263), que a registrou com embaixada, assim como Brandão (1976). É apresentada até hoje em Goiás e Pirenópolis. José A. Teixeira (1941:92-95) registrou-a sem embaixada. 
Folia de Reis: A Folia de Reis é uma das várias comemorações de caráter religioso que se repetem há séculos em nosso país. Ela é realizada entre a época do Natal e o Dia de Reis, em 6 de janeiro. Grupos de cantadores e músicos percorrem as ruas de pequenas cidades como Parati, no Rio de Janeiro, e Sabará, em Minas Gerais, entoando cânticos bíblicos que relembram a viagem dos três Reis Magos que foram a Belém dar boas-vindas ao Menino Jesus. 
O Frevo: Dança de rua e de salão, é a grande alucinação do carnaval pernambucano. Trata-se de uma marcha de ritmo sincopado, obsedante, violento e frenético, que é a sua característica principal. E a multidão ondulando, nos meneios da dança, fica a ferver. E foi dessa idéia de fervura (o povo pronuncia frevura, frever) que se criou o nome de frevo. A primeira coisa que caracteriza o frevo é ser, não uma dança coletiva, de um grupo, um cordão, um cortejo, mas na multidão mesma, e que aderem todos que o ouvem, como se por todos passasse uma corrente eletrizante. O frevo é uma marcha, com divisão em binário e andamento semelhante ao da marchinha carioca, mais pesada e barulhenta e com uma execução vigorosa e estridente de fanfarra. Nele o ritmo é tudo, afinal a sua própria essência, ao passo que na marchinha e predominância é melódica. O frevo é sempre dançado ao som das marchas-frevos típicas, e tem por símbolo de realeza o guarda-chuva, que serve para manter o equilíbrio dos passistas. A coreografia dessa dança de multidão é, curiosamente, individual. Centenas e centenas de foliões, ao som da mesma música excitante, dançam diversamente. É muito raro os gestos iguais e as atitudes semelhantes. 
Fandango: O Fandango, também conhecido no Norte e Nordeste como Marujada, é um folguedo de origem portuguesa em homenagem às conquistas marítimas. A encenação começa com a chegada de uma miniatura de barco a vela, puxada pela tripulação. Os personagens cantam e dançam ao som de instrumentos de corda. ''Marinheiros somos! Marujos do mar!'' é uma das frases recitadas pela tripulação. 
Cavalhada: A Cavalhada é um folguedo do qual participam cavaleiros divididos em grupos, ou cordões. Eles homenageiam os ricos homens europeus da Idade Média, que se exibam em cavalos. Usando trajes especiais, executam manobras numa série de jogos. A Cavalhada acontece em Alagoas, com versões diferentes nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo. 
Congada: A Congada, realizada em vários estados brasileiros, entre eles Paraná, Minas Gerais e Paraíba, representa a luta entre dois grupos, os cristãos e os mouros, os muçulmanos. Eles marcham, cantam e simulam uma disputa com espadas, imitando uma guerra que termina com a derrota dos mouros. Criada pela Igreja Católica, essa encenação tem São Benedito como padroeiro. A música fica por conta de uma orquestra composta de violas, violões, cavaquinhos, reco-recos e atabaques. 
Círio de Nazaré: Em Belém do Pará acontece anualmente em outubro uma grande festa religiosa que chega a reunir cerca de 1 milhão de pessoas: o Círio de Nazaré. A multidão lota as ruas da cidade para acompanhar a procissão, que dura até cinco horas, em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré. Os romeiros que vão pagar promessas pela cura de doenças, por exemplo, andam descalços e seguram a corda de isolamento que protege a santa. No final, os participantes vestem roupas novas e se alimentam dos pratos típicos da região, como o pato no tucupi, o tacacá e o arroz com pequi. 
Festa do Divino: De origem portuguesa e com características diferenciadas em cada região do Brasil, a Festa do Divino é composta de missas, novenas, procissões e shows com fogos de artifício. Em cidades do Maranhão, bonecos gigantes divertem as crianças, enquanto grupos de cantadores visitam as casas dos fiéis recolhendo ofertas e donativos para a grande festa de Pentecostes. Em Piracicaba,. interior de São Paulo, as comemorações ocorrem em julho, às margens do Rio Piracicaba, reunindo milhares de pessoas. 
Candomblé: Festa religiosa dos negros jeje-nagôs na Bahia, mantida pelos seus descendentes e mestiços, é um culto africano introduzido no Brasil pelos escravos. Algumas de suas divindades são: Xangô, Oxum, Oxumaré e Iemanjá, representando esta, por si só, um verdadeiro culto.
As cerimônias religiosas do Candomblé, são realizadas de um modo geral em terreiros, que são locais especialmente destinados para esse fim, e recebem os seguintes nomes: Macumba no Rio de Janeiro, Xangô em Alagoas e Pernambuco. As cerimônias são dirigidas pela mãe-de-santo, ou pai-de-santo. Cada orixá tem uma aparência especial e determinadas preferências. O toque de atabaque, uma expécie de tambor e a dança, individualizam um determinado orixá. Os orixás são divindades, santos do candomblé, cada pessoa é protegida por um dos orixás e pode ser possuída por ele, quando, então ela se transforma em cavalos de santo. 
Capoeira Regional: A capoeira Regional é uma capoeira mais dinâmica, mais rápida, com golpes geralmente acima da cintura e principalmente acima do peito, o objetivo do jogo é mostrar a sua superioridade com um jogo técnico e dependendo do toque um jogo bastante acrobático.
E com toda essa dinâmica a capoeira também se tornou uma eficiente defesa pessoal.


Danças Folclóricas do Brasil

O que são danças folclóricas, coreografia, músicas, instrumentos musicais, história, principais danças, aspectos culturais.


Introdução 
As danças sempre foram um importante componente cultural da humanidade. O folclore brasileiro é rico em danças que representam as tradições e a cultura de uma determinada região. Estão ligadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras. As danças folclóricas brasileiras caracterizam-se pelas músicas animadas (com letras simples e populares) e figurinos e cenários representativos. Estas danças são realizadas, geralmente, em espaços públicos: praças, ruas e largos.
Principais danças folclóricas do Brasil

Samba de RodaEstilo musical caracterizado por elementos da
cultura afro-brasileira. Surgiu no estado da Bahia, no século XIX. É uma variante mais tradicional do samba. Os dançarinos dançam numa roda ao som de músicas acompanhadas por palmas e cantos. Chocalho, pandeiro, viola, atabaque e berimbau são os instrumentos musicais mais utilizados.

MaracatuO maracatu é um ritmo musical com dança típico da região pernambucana. Reúne uma interessante mistura de elementos culturais afro-brasileiros,
indígenas e europeus. Possui uma forte característica religiosa. Os dançarinos representam personagens históricos (duques, duquesas, embaixadores, rei e rainha). O cortejo é acompanhado por uma banda com instrumentos de percussão (tambores, caixas, taróis e ganzás).

FrevoEste estilo pernambucano de carnaval é uma espécie de marchinha muito acelerada, que, ao contrário de outras músicas de carnaval, não possui letra, sendo simplesmente tocada por uma banda que segue os blocos carnavalescos enquanto os dançarinos se divertem dançando. Os dançarinos de
frevo usam, geralmente, um pequeno guarda-chuva colorido como elemento coreográfico.

Baião
Ritmo musical, com dança, típico da
região nordeste do Brasil. Os instrumentos usados nas músicas de baião são: triângulo, viola, acordeom e flauta doce. A dança ocorre em pares (homem e mulher) com movimentos parecidos com o do forró (dança com corpos colados). O grande representante do baião foi Luiz Gonzaga.

CatiraTambém conhecida como cateretê, é uma dança caracterizada pelos passos, batidas de pés e palmas dos dançarinos. Ligada à cultura caipira, é típica da região interior dos estados de São Paulo, Paraná,
Minas Gerais e Goiás e Mato Grosso. Os instrumento utilizado é a viola, tocada, geralmente, por um par de músicos.

QuadrilhaÉ uma dança típica da época de
festa junina. Há um animador que vai anunciando frases e marcando os momentos da dança. Os dançarinos (casais), vestidos com roupas típicas da cultura caipira (camisas e vestidos xadrezes, chapéu de palha) vão fazendo uma coreografia especial. A dança é bem animada com muitos movimentos e coreografias. As músicas de festa junina mais conhecidas são: Capelinha de Melão, Pula Fogueira e Cai,Cai balão.

O QUE É DANÇA FOLCLÓRICA
É uma forma de dança social que se desenvolveu como parte dos costumes e tradições de um povo e são transmitidas de geração em geração. Muitas danças exigem pares, outras são executadas em roda, às vezes se colocam em fileiras.
Embora as danças folclóricas sejam preservadas pela repetição , vão mudando com o tempo, mas os passos básicos e a música assemelhem-se ao estilo original. Todos os países têm algum tipo de dança folclórica e a maioria pertence apenas a sua nação, como por exemplo: a tarantela, italiana, o drmes, croata ou o krakowiak, polonês e o frevo brasileiro. Algumas são executadas em ocasiões especiais, como a polca de Natal sueca, a hayivka, dança da Páscoa ucraniana, a hochzeitstanz, dança austríaca de casamento e o reisado brasileiro, que festeja a véspera do dia de Reis.
Cateretê
Também chamado catira, cateretê, é uma dança de origem indígena e dançada em muitos estados brasileiros. Foi bastante usada pelo Padre Anchieta que em sua catequese, traduziu para a língua tupi alguns textos católicos, assim enquanto os índios dançavam, cantavam trechos religiosos, por este fato é que muitos caipiras paulistas consideram muitas danças diabólicas, menos o cateretê. Os trajes usados são as roupas comuns de todo o dia. A dança varia em cada região do país, mas geralmente são dançadas em duas fileiras formadas por homens de um lado e mulheres do outro, que batem o pé ao som de palmas e violas. Também pode ser dançada só por homens. As melodias são cantadas pelos violeiros.

Coco Alagoano
Dança típica de Alagoas, de origem africana, que se espalhou por todo o Nordeste recebendo nomes e formas de coreografias diferentes. A dança é cantada e acompanhada pela batida dos pés ou pela vibração do patear dos cavalos. O mestre ou o tocador de coco entoa as cantigas cujo refrão é respondido pelos cantadores.

Congada
Bailado popular que acontece em algumas regiões do Sudeste brasileiro, como nos estados do Paraná e Minas Gerais, como também no Nordeste, na Paraíba. Esta manifestação cultural tem origem no catolicismo e nas sangrentas histórias de guerra do povo africano, como a do assassinato do rei de Angola, Gola Bândi. Na congada dramatizam uma procissão de escravos feiticeiros, capatazes, damas de companhia e guerreiros que levam a rainha e o rei negro até a igreja, onde serão coroados. Durante o cortejo, ao som de violas, atabaques e reco-recos, realizam danças com movimentos que simulam uma guerra.

Fandango
Dança popular gaúcha, de origem portuguesa, também conhecida no Norte e Nordeste como Marujada. Ao som da viola ou da sanfona, o grupo de dança mistura cantigas náuticas, de origens que retratam as conquistas marítimas e o heroísmo dos navegadores portugueses, e o sapateado. Esse bailado não possui enredo ordenado, mas a apresentação do auto começa sempre com a chegada de uma miniatura de barco à vela puxado pela tripulação, que é formada pelos componentes do grupo de dança.

Maracatu
Dança típica do Nordeste, principalmente de Pernambuco. Maracatu é um termo africano que significa dança ou batuque, no qual um grupo de adeptos das religiões afro-brasileiras saem fantasiados às ruas para fazer saudações aos orixás, em um cortejo carnavalesco onde reis, rainhas, princesas, índios emplumados e baianas cruzam as ruas dançando, pulando e passando de mão em mão a calunga, boneca de pano enfeitada presa num bastão. O ritmo frenético que acompanha o maracatu teve origem nas Congadas, cerimônias de escolha e coroação do rei e da rainha da "nação" negra. Ao primeiro acorde do maracatu, a rainha ergue a calunga para abençoar a "nação". Atrás vão os personagens, com chapéus imensos, evoluindo em círculos e seguindo a procissão recitando versos que evocam histórias regionais

Frevo
Dança e música típica do carnaval de rua e salão de Recife, Pernambuco. Essencialmente rítmica, de coreografia individual e andamento rápido. Seus dançarinos, chamados passistas, se vestem com fantasias coloridas e agitam pequenos guarda-chuvas com função somente estética. Alguns pesquisadores dizem que o frevo possui elementos de várias danças como marcha, polca ou maxixe, outros pensam que ele foi influenciado pela capoeira. O frevo não é cantando, sua música só é executada por instrumentos de sopro e surdos, que formam a orquestra do frevo conhecida como Fanfarra.

Reisado
Dança popular profana-religiosa, de origem portuguesa, com que se festeja a véspera e o Dia de Reis. No período de 24 de dezembro a 06 de janeiro, um grupo formado por músicos, cantores e dançadores vão de porta em porta anunciando a chegada do Messias e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam e dançam. O Reisado é de origem portuguesa e instalou-se em Sergipe no período colonial. Atualmente, é dançado em qualquer época do ano, os temas de seu enredo, variam de acordo com o local e a época em que são encenados, podem ser: amor, guerra, religião entre outros. O Reisado se compõe de várias partes e tem diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, ganzá, zabumba, triângulo e pandeiro.

Xaxado
Dança popular do sertão nordestino, cujo nome foi dado devido ao som do ruído que as sandálias dos cangaceiros faziam ao arrastarem sobre o solo durante as comemorações celebradas nos momentos de glória do grupo de "Lampião", considerado entre outras denominações o "Rei do Cangaço. É dançada somente por homens, razão pela qual nunca se tornou uma dança de salão. Primeiramente a melodia era apenas cantada e o tempo forte marcado pela batida de um rifle no chão, as letras eram e continuam satíricas. O grande divulgador do xaxado foi Luís Gonzaga, que conseguiu que este gênero fosse tocado nas rádios, televisões e teatros.

Baião
Dança e canto típico do Nordeste, inicialmente era o nome de um tipo de festa, onde havia muita dança e melodias tocadas em violas. Este gênero musical que era restrito ao sertão nordestino, passou a ser conhecido em todo Brasil, por intermédio do sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga, quando gravou em 1946, seu primeiro grande sucesso Baião. A partir daí e até meados da década de 1950, este ritmo tomou conta do Brasil e vários artistas começaram a gravar o baião. Em 1950, este gênero musical também passou a ser conhecido internacionalmente, o baião Delicado do instrumentista e compositor Valdir Azevedo, recebeu várias orquestrações de maestros americanos. O baião só perdeu o seu reinado com a aparecimento da bossa nova, mesmo assim ainda se sente sua influencia em muitos compositores até os dia de hoje. Com seu ritmo binário e suas melodias a fazer muito sucesso no nordeste.
  • Tradicionalidade, a partir de sua transmissão geracional, entendida como uma continuidade, onde os fatos novos se inserem sem ruptura com o passado, e se constroem sobre esse passado.
  • Dinamicidade, ou seja, sua feição mutável, ainda que baseada na tradição.
  • Funcionalidade, existindo uma razão para o fato acontecer e não constituindo um dado isolado, e sim inserido em um contexto dinâmico e vivo.
  • Aceitação coletiva: deve ser uma prática generalizada, implicando uma identificação coletiva com o fato, mesmo que ele derive das elites. Esse critério não leva em conta o anonimato que muitas vezes caracteriza o fato folclórico e tem sido considerado um indicador de autenticidade, pois mesmo se houver autor, desde que o fato seja absorvido pela cultura popular, ainda deve ser considerado folclórico. Um exemplo disso é a literatura de cordel brasileira, geralmente com autoria definida, mas tida como elemento genuíno da cultura popular.
Pode-se acrescentar a esses o critério da espontaneidade, já que o fato folclórico não nasce de decretos governamentais nem dentro de laboratórios científicos; é antes uma criação surgida organicamente dentro do contexto maior da cultura de uma certa comunidade. Mesmo assim, em muitos locais já estão sendo feitos esforços por parte de grupos e instituições oficiais no sentido de se recriar inteiramente, nos dias de hoje, fatos folclóricos já desaparecidos, o que deve ser encarado com reserva, dado o perigo de falsificação do fato folclórico.[4] Também deve ser regional, ou seja, localizado, típico de uma dada comunidade ou cultura, ainda que similares possam ser encontrados em países distantes, quando serão analisados como derivação ou variante.
Cquote1.pngum outro processo a merecer atenção é o da espetaculização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis".[4]

"um outro processo a merecer atenção é o da espetaculização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis"
Cquote1.pngum outro processo a merecer atenção é o da espetaculização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis".
Características do fato folclórico

Para se determinar se um acontecimento é folclórico, ele deve apresentar as seguintes características:
Tradicionalidade: vem se transmitindo geracionalmente.
Oralidade: é transmitido pela palavra falada.
Anonimato: não tem autoria.
Funcionalidade: existe uma razão para o fato acontecer.
Aceitação coletiva: há uma identificação de todos com o fato.
Vulgaridade: acontece nas classes populares e não há apropriação pelas elites.
Espontaneidade: não pode ser oficial nem institucionalizado.

As características de tradicionalidade, oralidade e anonimato podem não ser encontrados em todos os fatos folclóricos como no caso da literatura de cordel, no Brasil, onde o autor é identificado e a transmissão não é feita oralmente.
Campos do Folclore

Música
Caracteriza-se pela simplicidade, monotonia e lentidão. Sua origem pode estar ligada a uma música popular cujo autor foi esquecido ou pode ter sido criada espontâneamente pelo povo. Observa-se a música folclorica sobretudo em brincadeiras infantis, cantos religiosos, ritos, danças e festas.
São exemplos:
cantigas de roda;
ciranda cirandinha
acalantos;
modinhas;
cantigas de trabalho;
serenatas;
cantos de velório;
cantos de cemitério.
Parlenda

São palavras ordenadas de forma a ritmar, com ou sem rima.


Provérbios
Ditos que contém ensinamentos. Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão. A fome é o melhor tempero. Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão. Pagar e morrer é a última coisa a fazer.

Quadrinhas

Estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.

Piadas
Fatos narrados humorísticamente. Piada ou Anedota é uma história curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas (ou sensação de) no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia. Joãozinho é um nome genérico que se utiliza em piadas que envolvem um garotinho que faz perguntas ou comentários que provocam espanto em adultos. Esse é o nome utilizado no Brasil e em Portugal, mas esse contexto de piada também é utilizado em outros países. Há uma variação, que é Juquinha.
Os nomes mais populares são: Little Johnny (Estados Unidos), Jaimito (Espanha), Pepito (México), Vovochka (Rússia), Pepícek (República Tcheca), Pierino (Itália) e Toto (França).
Exemplo:
O Joãozinho vai com sua irmã visitar a avó:
— Vovó, como é que as crianças nascem?
— Bem, as cegonhas trazem as criancinhas no bico, meus netinhos.
Joãozinho cochicha para a sua irmã:
— E aí, o que é que você acha? Contamos a verdade para ela?


Literatura de Cordel

livrinhos escritos em versos, no nordeste brasileiro, e pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos às situações social, política e econômica atuais.
Frases prontas: frases consagradas de poucas palavras com significado direto e claro.

Frases de pára-choque de caminhão

Frases humorísticas ou religiosas que caminhoneiros pintam em seus pára-choques.

Trava-Língua

É um pequeno texto, rimado ou não, de pronunciação difícil.

Usos e costumes

Neste campo inclui-se ítens à respeito da alimentação, cultivo, vestuário, comportamento etc, de um povo de uma região.

Brinquedos e brincadeiras

Os brinquedos são artefatos para serem utilizados sozinho, como a boneca de pano, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga e etc.
As brincadeiras envolvem disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, etc.
Como por exemplo pipa: é um instrumento feio com papel seda, e hastes de madeira, contendo uma rabiola, fio com várias fitas, e outro fio, se empina a pipa para um lado onde houver vento, e a solta com a ajuda do vento e da rabiola ela sobe em direção ao céu. Mas cuidado: não use cerol.

Lendas, mitos e contos

Lenda é uma narração fantasiosa sobre um fato real. São exemplos de lendas brasileiras:
Negrinho do Pastoreio(Sul);
A lenda do Uirapuru (Norte);
A lenda da Nossa Senhora das Graças (Sudeste);
A lenda da vitória régia;
Mito é uma história em torno de algo irreal, como:
Boitatá
Caipora
Chupa-Cabras
Curupira
Mula-sem-cabeça
Ralã-barrão
Saci Pererê

Crenças e superstições

Sabença: sabedoria popular utilizada na cura de doenças e solução de problemas pessoais através de benzeduras.
Crendice: crença absurda, também chamada de ablusão.
Superstição: explicações de fatos naturais como consequências de acontecimentos sobrenaturais.

Arte e artesanato

Compreende uma ampla área, que se estende desde a culinária até o artesanato propriamente dito. Baseiam-se em técnicas rudimentares de produção e utilizam-se de matéria-prima natural como madeira, ossos, couro, tecido, pedras, sementes, entre outros.


Natal

Thelma Regina Siqueira Linhares
Professora e pesquisadora de folclore - Recife/PE

É mais uma vez Natal! Estamos a celebrar o nascimento de Jesus Cristo, comemorado há mais de dois milênios. Bem verdade que o 25 de dezembro é simbólico, pois foi esta data fixada pelo Papa Júlio I, no século IV, para se festejar o nascimento do Filho de Deus feito Homem, fazendo substituir a então romana festa pagã do solstício, consagrada ao sol.
Entre nós, cristãos, o Natal se reveste de um significado especial porque, a título de exame de consciência, faz o homem sentir-se mais humano, vivenciando mais intensamente o mandamento novo do Messias: "que vos ameis uns aos outros. Como eu vos tenho amado, amai-vos assim também vós mutuamente". Jó, 13,34.
Por ser uma festa universal, o Natal caracteriza uma época, dando-lhe identidade própria. É o chamado ciclo natalino. Este ciclo engloba expressões diversas da cultura brasileira, em especial a nordestina, destacando-se entre outras manifestações folclóricas, tais como Lapinha, Pastoril, Bumba-meu-boi, Fandango, Folias de reis etc.
Natal é uma festa de confraternização, de amor. Também é uma grande festa de alegria, de luzes e cores. O Presépio, o Papai Noel, a Árvore de Natal, têm destaque entre os símbolos natalinos de todo o mundo. A troca de presentes e os votos de boas festas por intermédio de mensagens diversas são, igualmente, costumes universais. Estes elementos, tão diversificados em suas origens, foram incluídos nos festejos da época, um contínuo processo de aculturação, de tal forma que, hoje é quase impossível se conceber o Natal sem Papai Noel, por exemplo.
O Presépio corresponde à representação da cena de adoração do Menino-Jesus na gruta de Belém. Jesus, Nossa Senhora e São José são figuras humanas obrigatórias. Entre os animais, o burro e o boi. Podendo ainda figurar os Três Reis Magos, pastores, anjos, ovelhas e outros bichos. Em geral, estas peças são confeccionadas em barro, madeira, gesso, palha ou outro material, de artesanato ou industrialmente. E vão ornamentar igrejas, residências, locais de trabalho e vias públicas durante as comemorações natalinas. A criação do presépio é atribuída a São Francisco de Assis que, em 1223, teria armado a primeira lapinha. No Brasil, já no século XVI, foi o presépio trazido pelos jesuítas, no início do período colonial, difundindo-se, a partir de então, o costume de se representar a adoração do Deus-Menino.
O Papai Noel é um elemento relativamente novo nas comemorações natalinas, da maneira especial no Brasil. Foi introduzido no início deste século, tornando-se mais conhecido a partir de 1930, como figura formal e de iniciativa oficial. Atualmente deve sua popularidade, em particular e de modo significado, à publicidade para fins comerciais de que tem sido alvo. Na Europa, sua origem se confunde com as lendas de São Nicolau. Segundo a tradição, a cada fim de ano, o bom velhinho deixa o Pólo Norte num trenó puxado por renas douradas, numa velocidade do pensamento, carregando um grande saco cheinho de brinquedos, embora sem condições de presentear as crianças do mundo inteiro - afinal não possui varinha de condão... Sua imagem, conhecida em quase todos os recantos da Terra, por intermédio dos modernos meios de comunicação, corresponde a um velhinho gorducho, de barbas brancas, que usa roupas vermelhas e longas botas pretas. É ansiosamente esperado pelas crianças que aguardam receber dele seus presentes de Natal, alguns, inclusive, pedidos por meio de cartinhas e bilhetes endereçados ao Papai Noel.
A Árvore de Natal é, principalmente, um elemento decorativo que, com o colorido de bolas, velas e luzes empresta um ar mais festivo à alegria das comemorações natalinas. Entre nós, é um hábito deste século. Segundo Luís Câmara Cascudo, a primeira Árvore de Natal foi armada na capital do Rio Grande do Norte (Natal), em 1909. Desde então, tornou-se cada vez mais comum, sua presença nas festas de fim de ano. A introdução da Árvore de Natal nas festividades do nascimento de Jesus deveu-se a São Vilfrido que, segundo a tradição, indicou o abeto ou pinheiro como árvore do Menino-Deus, a partir de um fato que, a seus olhos, pareceu milagre. Mandando cortar um grande carvalho, o qual teve seu tronco atingido por um raio que o partiu em pedaços, ficando ileso um pequeno abeto, plantado a seu lado e que foi considerado, pelo santo, como símbolo de paz e de inocência. O uso do pinheiro foi largamente difundido na Alemanha antiga, de onde surgiu o costume de iluminá-lo. Conta-se que Lutero, usando velinhas multicoloridas, fazia lembrar, na Árvore de Natal, o céu estrelado do qual descia o Menino-Jesus para abençoar as crianças.
Como festa de confraternização universal, sobressaem no Natal, a troca de mensagens e de presentes. Embora de caráter acentuadamente comercial, esta manifestação do ciclo natalino, merece incentivo e louvor, enquanto motivação a uma melhor e mais intensa comunicação e fraternidade entre as pessoas.
A troca de cartões de Boas Festas vem sendo muito difundida. Os cartões, em sua maioria, apresentam como estímulo visual, motivos alheios à realidade brasileira, constituindo verdadeiras anomalias à nossa tropicalidade. São pinheiros e picos nevados, renas puxando trenós, chaminés etc. que nada têm a ver com as paisagens físicas e culturais do país. Fugindo a esta regra geral, merecem incentivo e divulgação, os cartões natalinos desenhados pelos xilógrafos Stênio Diniz e Abraão Batista, ambos de Juazeiro do Norte (Ceará). Inspiram-se em motivos bem nossos: a Sagrada Família é uma família de retirantes nordestinos; a Árvore de Natal e suas bolas multicores são substituídas por cajueiros e cajus; o sol tropical e a vegetação de cactos compõem a paisagem desses cartões, efetivamente, bem mais representativos da cultura nacional.
A troca de presentes tornou-se um costume natalino universal, a partir do século XV quando, na Inglaterra, ficou estabelecida a noite de 24 de dezembro para se dar e receber presentes. A prática do amigo secreto ou amigo oculto é cada vez mais difundida no Natal brasileiro - seja em família ou entre colegas de estudo ou de trabalho. A brincadeira se constitui na troca de presentes por meio de um sorteio, prévio e sigiloso entre os participantes que curtem a expectativa do presente e a descoberta e identificação do amigo secreto.
Estes são alguns elementos característicos do Natal de nossos dias. Natal comemorado festivamente, com muitas luzes, Árvores de Natal e bolas coloridas. Natal de Papai Noel, de mensagens de Boas Festas, de trocas de presentes. Natal de propaganda. Mas, Natal é, e acima de tudo, festa de confraternização, de amor e de paz. Feliz Natal!

Referência Bibliográfica

Linhares, Thelma Regina Siqueira. "Natal". Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; Centro de Estudos Folclóricos. Folclore, 117, dezembro de 1981
Publicado em Jangada Brasil, 2001, FUNDAJ, na série "Folclore" (1981).



Usos e Costumes
Na forma erudita, a melhor expressão para fixar o que representam usos e costumes de um povo é a palavra "consuetudinário", ou seja "o que se pratica repetidamente como um costume, usual, costumeiro, habitual, que se baseia nos hábitos de uma sociedade. Assim, muito importante conhecermos o processo histórico-cultural que leva uma comunidade a tomar dedeterminada atitude, e saber até onde esses hábitos influenciam a sociabilização, a identidade cultural e o processo de criatividade de um grupo.
Em verdade, o povo de cada região do mundo ou de um país ou estado sempre conserva seus hábitos, o modo de ser ou não ser, de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Cada um é feliz porque - de conformidade com os usos e costumes - sabe o que melhor lhe convém.
Wanderlino Arruda

Usos e costumes de algumas comunidades
- Mutirão para o cozimento de salgados e doces para festas religiosas e casamentos, ou então para bater uma laje, ou para realizar a colheita de um produto;
- O gosto de participar de festejos religiosos: receber a Folia de Reis em casa, oferecendo comida para todos os presentes, ou receber em casa a imagem da Santa Visitadora para rezar juntamente com os vizinhos, encontro sempre regado a um bom café;
- O modo de se expressar abreviadamente ou o linguajar diferenciado entre o povo de uma e de outra região, principalmente na prunúncia de determinados sons ou palavras.

FOLCLORE DEFINIÇÃO / CARACTERISTICAS,SIGNIFICADO
DEFINIÇÃO É o conjunto de mitos, crenças, histórias populares, lendas, tradições e costumes que são transmitidos de geração em geração, que faz parte da cultura popular.

A
palavra folclore vem do inglês “folk” = povo e “lore” = conhecimento e significa sabedoria popular. (saiba mais...)
O folclore é a expressão cultural mais legítima de um povo.PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
   *é popular.
   *
emana do saber cultural.
   *
constitui-se em uma tradição.
   *
é transmissível notadamente pela oralidade e pela prática.
   *
faz parte do conhecimento coletivo.
   *
espelha uma situação ou ação.
   *
tem caráter universal.
   *
é anônimo, pois desconhecem-se seus criadores.
   *
é criatividade livre e espontânea de um povo. 
PATRIMÔNIO CULTURAL
    O folclore como expressão do povo faz parte de sua riqueza cultural e portanto está inserido no patrimônio cultural.PROTEÇÃO JURÍDICA
    Constituição Federal: *art. 215: "o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais";

 *
art. 216 : "Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem:
     I- as formas de expressão;
     II – os modos de criar, fazer e viver;
     III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
     IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
     V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico".

    Portanto, as crenças, lendas, tradições, costumes e tradições, são bens imateriais, que compõem o patrimônio cultural, estão protegidos juridicamente pelo texto
constitucional citado. Tratam-se assim de bens imateriais difusos de uso comum do povo e que podem ser protegidos pela ação civil pública (Lei 4.3 /85).

    Exemplo: quando manifestações ou representações do folclore são proibidas por autoridade, lei ou ato administrativo, podem ser defendidas juridicamente.
PERTENCEM AO FOLCLORE
    A mitologia, as crendices, as lendas, os folguedos, as danças regionais, as canções populares, as histórias populares, os costumes populares, religiosidade popular ou cultos populares, a linguagem típica de uma região, medicina popular, o artesanato etc.MITOLOGIA
LENDAS DO FOLCLORE BRASILEIRO
OS FOLGUEDOS
BRINCADEIRAS INFANTIS
CRENÇAS E CRENDICES
SIMPATIAS
DANÇAS REGIONAIS
CANÇÕES E CANTIGAS POPULARES
RELIGIOSIDADES OU CULTOS POPULARES
O FOLCLORE EM POESIAS
INDUMENTÁRIA
ARTESANATOCULINÁRIA
Fonte:
Anuário do Folclore
Fotos e Pesquisa - LFRabatone


COMO SABER SE UM FATO É FOLCLÓRICO
O fato folclórico tem uma série
de características próprias:
     A) A primeira é o anonimato, isto é, não tem autor conhecido. Naturalmente tudo tem um autor, foi feito por alguém, pela primeira vez, mas o nome desse alguém, desse autor, se perdeu através dos tempos, despersonalizando-se, assim, a autoria. A estória de Dona Baratinha que se considerou muito rica ao encontrar um vintém e, por isso, saiu à procura de quem com ela desejasse casar-se - nos parece, pelos seus elementos, essencialmente brasileira, pois o noivo é o nosso conhecido João Ratão, que no dia do casório, por gula, morre num caldeirão que continha nossa feijoada. Mas já havia sido registrada em uma coleção de estórias da Índia, há quase dois mil anos. Quem foi seu autor? Ninguém sabe. E quem inventou os brinquedos de roda com suas cantigas, as danças, as adivinhas, as trovas, os ditados? Quem disse, pela primeira vez: quem quer vai, quem não quer manda?

     B) A segunda característica é a aceitação coletiva, é a aceitação do fato pelo povo e é essa aceitação que despersonaliza o autor. O povo, aceitando o fato, toma-o para si, considerando-o como seu, e o modifica e o transforma, dando origem a inúmeras variantes. Assim, uma estória é contada de várias maneiras, uma cantiga tem trechos diferentes na melodia, os acontecimentos são alterados e o próprio povo diz: "Quem conta um conto acrescenta um ponto". A mesma coisa acontece com as danças, os teatros, a técnica. Tudo pode ser modificado, porque o povo dança, mas suas danças não têm regulamento, não são codificadas, tanto pode o conjunto de dançadores dar três voltas como apenas uma, a indumentária tanto pode ser rica e colorida como simples e ingênua. Há, contudo, uma certa estrutura que determina aquela dança, aquela estória, aquela indumentária, aquela cerâmica e as modificações não invalidam o modelo.

     C)  A terceira característica é a transmissão oral, isto é, a que se faz de boca em boca, pois os antigos não dispunham de outros meios de comunicação. Não havia imprensa, não havia, portanto, nem livros, nem jornais, todos os conhecimentos eram transmitidos oralmente. Essa forma de transmissão, a oral, ainda persiste em meios primitivos e no interior de nosso país, nos povoados distantes, nas vilazinhas esquecidas, nos bairros longínquos. Só se aprende, nessas circunstâncias, por ouvir dizer e, no que se refere à técnica, feitura de aparelhos rudimentares, de rendas, de trançados, se aprende também por imitação, dispensado, muitas vezes, o ensinamento oral.

      Na transmissão oral vive toda a história daquele grupo, daquele povo, e, em qualquer das modalidades particulares (lendas, contos com preceitos morais e normas de procedimento, narrativas imaginosas sobre a natureza e o sobrenatural, cantos,
provérbios, parlendas, adivinhas, brinquedos, poesia, etc.) em conexão com o objetivo, facilita a apreensão e a conservação. A aquisição do conhecimento dá a cada qual a possibilidade de difundi-lo, de propagá-lo, cabendo, evidentemente, aos bem dotados, a responsabilidade maior nas cantorias, nas danças e nas técnicas, que se fixam pela prática freqüente, comunicação do exemplo e imitação espontânea.

     D) A quarta característica é a tradicionalidade, não no sentido de um tradicional acabado, perimido, coisa passada, sem vida, mas de uma força de coesão interna que define o modelo do conglomerado, da região, do povo, e lhe dá uma unidade. Sem se poderem valer de outros expedientes, como professores, escolas, imprensa, as pessoas do povo se valem da tradição, veiculada pela transmissão oral, a fim de resolver suas situações, buscando na lição vinda do passado o que precisam saber no presente, já que suas possibilidades as endereçam mais A sabedoria constituída que à inventiva. A tradição, que é o modo vivo e atual pelo qual se transmitem os conhecimentos, não ensinados na escola, rege todo o saber popular, seja o desenvolvimento de um jogo, de uma dança, de uma técnica, seja uma atitude ante qualquer agente que exija definição de comportamento.
      Essa força, que age no sentido de garantir a permanência dos valores de uma cultura, não segue seu destino nem cumpre sua missão sem lutas e empecilhos. Elementos de outras culturas a submetem a pressão, e isto provém de não ser absolutamente fechado o campo da cultura, antes, é um campo aberto onde se agitam as influências do próprio meio e as externas. Somente a inércia poderá retardar essas modificações, mas a cultura é viva, é dinâmica, e sofre evidentemente, impacto em todos os setores.

     E) A quinta característica é a funcionalidade. Tudo quanto o povo faz tem uma razão, um destino, uma função. O povo nada realiza sem motivo, sem determinante estritamente ligada a um comportamento, a uma norma psico-religiosa-social, cujas origens talvez se perderam nos tempos. A dança, por exemplo, não é apenas uma repetição de gestos com feição harmoniosa.
       Inicialmente teria tido um destino, seja decorrente de rito religioso, seja de cerimônia do grupo, e, assim, deve ser vista como pane de um todo, da cultura do povo, é uma expressão a ser analisada como integrante de um contexto.
Por que o povo canta? Canta para rezar, canta para adormecer a criança, canta para trabalhar, canta para festejar as colheitas e os acontecimentos, canta para ajudar a morrer e para enterrar seus mortos. Mas não dão concertos, recitais, audições como os eruditos; as suas festas têm épocas marcadas, com seus cantos e danças próprias. Assim, o Natal é comemorado com grupos de
Pastorinhas, Bailes Pastoris e Folias de Reis; o Bumba-meu-boi aparece em datas distintas, variando conforme a região; Congadas e Moçambiques louvam a Senhora do Rosário e São Benedito, e ainda as Danças de São Gonçalo e de Santa Cruz, com destino certo.
Fonte:
Que é Folclore? Maria de Lourdes Borges Ribeiro - MEC.
Anuário do Folclore - 1993
Revisão - LFRabatone



METODOLOGIA EM FOLCLORE – A INVESTIGAÇÃO FOLCLÓRICA
COLETA, LEVANTAMENTO E PESQUISA.   OBSERVAÇÃO.  INQUÉRITO.  ENTREVISTA.

     Estando o folclore, como vimos, dentro do quadro das ciências antropológicas e com ligações íntimas com várias ciências, o método de investigação de seus fatos deverão abranger a totalidade do fenômeno ou uma de suas faces, conforme for a orientação seguida. Muitos estudiosos aplicam o método histórico e a Escola Finlandesa, na pesquisa dos contos, adotou o método histórico-cultural. Outros o fazem dentro dos métodos sociológicos por se interessarem simplesmente pelos aspectos do comportamento da coletividade nas suas manifestações folclóricas Outros ainda visam apenas ao lado
psicológico, a fim de espelhar, no fato folclórico, a psicologia coletiva. Há os que buscam métodos estéticos, mas o fato folclórico devendo ser visto como um todo a sua realidade só se terá pela aplicação dos métodos antropológicos e culturalistas, como recomenda a Carta do Folclore Brasileiro, naturalmente com a atenção devida a determinadas explicações que só terão com o emprego de métodos atinentes a ciências afins. E ainda utilizando métodos auxiliares, como o estatístico, de particular interesse.
      Não creio que se possa falar de um método folclórico, mesmo de caráter eclético. Ele deve utilizar elementos de vários outros, científicos, literários e artísticos, para a prospecção de seus fatos, que abrangem múltiplas formas do comportamento humano, pois o Folclore, como disse o folclorista alemão Richard Weiss é "uma ciência de relação não só pela sua matéria, mas também pelo seu método”. Devemos nós, folcloristas, como aconselha Kaarle Krohn, nos dedicar a investigações microscópicas a fim de chegar a conclusões que correspondam aos fatos. “0 folclorista se aproxima do povo e chega a compreender e a precisar não só a sua própria nação, mas também a humanidade em geral no mais profundo de sua alma e no mais remoto de seu passado”. Essa a complexidade e vastidão do significado do fato folclórico, cuja metodologia é uma concreção de métodos, criando, contudo processos peculiares, porque os fenômenos devem ser vistos sempre, qualquer que seja o método empregado, pelo angulo folclórico, isto é, para determinar as maneiras de pensar, sentir e agir das camadas populares e dos primitivos.
      A investigação folclórica se pode fazer através da Coleta, do Levantamento e da Pesquisa. Coleta quando quisermos conhecer seja a localização de fatos, seja obter objetos, seja reunir material de estudo. Já uma fase preliminar da Pesquisa. Queremos, por exemplo, estudar as danças de Pernambuco. Fazemos uma Coleta para saber quais são as danças do Estado, suas formas e onde se encontram. Podemos fazer também, para saber qual a cerâmica folclórica que lá se fabrica e onde se localizam os ceramistas e reunir um número de peças especificas. A coleta pode ser para saber apenas onde se fabricam bonecos. E assim por diante. Levantamento é quando procedemos para conhecer quais os fatos folclóricos, de várias espécies ou de uma só espécie, que se encontram numa dada região. Por exemplo, podemos fazer um Levantamento de todo o folclore pernambucano, ou de uma parte, onde são os centros do artesanato da cestaria, ou onde se dança a ciranda. Essas duas fases da investigação podem valer por si ou servirem de base a Pesquisa, quando depois dos informes que nos fornecem, vamos então conhecer os fatos em toda as suas modalidades, verificar sua morfologia e sua dinâmica, bem como as projeções que possuem. Essa parte cabe aos técnicos e tem de iniciar-se em campo e concluir-se em gabinete onde se formularão as conclusões. A Pesquisa pode ser também de gabinete apenas, quando de ordem bibliográfica. Fazer por exemplo uma pesquisa dos autores que investigaram e estudaram os mitos e tirar as conclusões gerais, através das parciais de cada qual. Ou pode ser de natureza informativa, conhecer a bibliografia do mito de Jurupari ou dos contos amazônicos.
      As formas empregadas para investigação são, em primeiro lugar, a observação, em que o investigador veja, descreva e indique o que viu e ouviu. Esse registro pode ser manual, copiando textos e anotando cantos, descrevendo danças, pertences, cenas, desenhando objetos de tipos. E pode ser mecânica, filmando, fotografando ou registrando em áudio: disco (CD), ou fita, forma sempre mais aconselhável. 0 registro mecânico, contudo, deve ser acompanhado do manual, para cotejos posteriores, pois diferenças de voltagens e desarranjos de aparelhos podem determinar retificações a fazer.
      A observação pessoal é fundamental, sobretudo em folclore, porque não basta o registro técnico por perfeito que seja, é necessário observar a parte viva do folclore, que a mecânica não pode revelar. Por exemplo, podemos registrar uma história, de forma perfeita, mas não daremos nunca o estilo pessoal do contador, a sua emoção ao fazê-lo, os destaques mímicos, em suma, a alma com que a conta. Da mesma forma, a reação da assistência como a ouve, o que mais a impressiona, os comentários que fazem e assim por diante. Tanto que a forma mais recomendável é a observação participante, na qual o observador toma parte na demonstração a que assiste, canta, dança, reza, trabalha, como se pertencesse ao grupo. Não é coisa fácil, porque essa participação não depende apenas do observador, depende do grupo aceita-lo e a sua frente portar-se normalmente como se ele nem ali estivesse. No conselho de Pauline V. Young: "acostumar o grupo com o observador até que o aceite cordialmente e o incorpore mais ou menos como seu membro. Consegue assim uma aproximação, indispensável quase para estudos de casos mais íntimos e entrevistas a serem efetuadas posteriormente".
      Numa gente do povo, como a nossa, desconfiada e arredia, esse processo é eivado de dificuldades. Em toda observação direta, na participante ainda mais, o papel do observador será extremamente discreto: ouvir sempre, anotar com segurança, mostrar um interesse humano, conter qualquer manifestação que possa parecer zombaria, mesmo quando de entusiasmo, recordando-se sempre de estar tratando com gente desconfiada. Os de temperamento extrovertido são em geral maus pesquisadores. Um sentido de equilíbrio se torna necessário, pois o folclorista não se deve esquecer nunca de que não é um simples registrador de fatos, é, sobretudo um psicólogo. Alan Lomax acha, por ser o folclore um veículo de emoções humanas, que nossas relações com seu material não devem ser apenas as de um observador participante, mas de um participante ativo, a fim de verificar a densidade de seus acentos emocionantes. Assim é preciso constatar o meio com aspecto dos fatos a serem analisados nos seus fatores culturais e nas suas serventias funcionais. Porque participar da observação de um fato folclórico significa tornar parte na função, conhecer bem o ambiente e o comportamento do grupo onde aparece, observar os figurantes e os assistentes, conversar com os mais velhos e as crianças para estudar a continuidade e verificar as atividades psicológicas. A visão deve ser sintética, acurada, porém a análise dos elementos convergentes.
      O Inquérito é uma forma precária de investigação. Consiste em enviar a determinadas pessoas um questionário sobre um ou vários fatos folclóricos, indagando a respeito do mesmo, na cidade, região ou Estado. Por exemplo, quero saber onde há xangôs em Pernambuco. Escrevo a pessoas de várias cidades e localidades do Estado, que sejam capazes de informar, perguntando, de uma forma simples, a respeito. Esse processo rende muito pouco e raras são as respostas recebidas. Se o questionário for longo e complicado, então tudo estará perdido. Deve ser muito simples e fácil de responder; se conseguir um número razoável de respostas será um começo de trabalho, mas devo confessar meu ceticismo na matéria.
      A Entrevista é talvez a forma mais importante da pesquisa folclórica ao lado da observação, que, aliás, nela também é importante. Consiste em conversar com um portador de folclore para conhecer determinados fatos. Antes de tudo, é preciso muito cuidado, saber inquerir, captar a confiança do entrevistado, não inibi-lo com perguntas complicadas e convencê-lo que estamos interessados no assunto, não para obter informações que possam prejudicá-lo (isso tem muita importância nos inquéritos sobre assuntos relacionados com a magia, como cultos, medicina folclórica, etc.) e sim para fins elevados, que lhe serão explicados conforme seu nível mental. As cautelas devem ir do modo de vestir-se até a entonação da voz. Não rir de nada, não zombar, não fazer perguntas de escrivão, não insistir em demasia. Quando notar que estão se contradizendo, devemos renovar a pergunta, sem que pressinta. Nunca nos mostrarmos entendidos, nem lhe dizer que ouvimos de outra forma. Nunca perguntar se isso é assim, mas como é isso? Não insinuar respostas. Não retardar demais a conversa, nem ser insistente. Muita coisa haveria de recomendar, mas são qualidades que dependem de vocação. Quem não for muito paciente e não tiver enorme indulgência com o povo, quem não possuir uma extrema doçura em tratá-lo, então estará fadado a falhar inteiramente. Devemos ter em vista o temperamento do entrevistado que nos orientará na maneira de conduzir a entrevista. Assim, se se tratar de um vacilante é preciso perder muito tempo; de um obtuso, é necessário uma paciência inesgotável; de hostil, devemos testar-Lhe as reações negativas; e de um gabola, estimular sua exuberância e variar as perguntas para melhor controle.
      Quando a pesquisa é feita em equipe, e são estas as mais eficientes, há sempre um chefe, que orienta o serviço e coordena as atividades.
      Não se deve nunca pagar o informante, o que não impede de se lhe dar dinheiro, mas como presente pessoal, para comprar uma lembrança, para tomar cerveja ou para cigarros, etc. Mas o que lhe der deve ser por amizade, ajuntando que nada tem com que nos está contando. No caso, porém de precisarmos ouvir assalariados, tirando-os do trabalho, é preciso indenizá-los.
      A indenização do informante é muito necessária, não numa forma perfeita, mas que nos dê elementos supletivos para a própria informação. Saber de onde é o individuo, se faz determinada coisa aprendida ali, desde criança ou mais tarde. Se aprendeu com gente de fora. Quando casado, se trabalha com a família (esse ponto é muito importante na pesquisa de artesanatos e de folguedos) e a idade. Não os anos que tem, mas se é menino, jovem, meia idade ou velho, porque através desse dado verificaremos a continuidade dos fenômenos. A profissão, a fim de verificar se tem ligações com as atividades folclóricas de que se ocupa.
      Muito importante é recolher tudo. O pesquisador não pode considerar coisa alguma de somenos, porque pormenores há que estão densos de sugestões e nos abrem caminhos numerosos para outras investigações. E recolher também o maior número de variantes dos fatos pesquisados. Não se devem registrar variantes e depois compor um todo, mas dar cada variante de per si. Recomendava Kaarl Krohn: “Mais vale um estudo com cem variantes de um só lugar, do que cem variantes de cem lugares”.
      Deixo de mencionar aqui as formas de técnica de pesquisa em equipe, não só porque o tempo me é por demais escasso, como ainda porque para as equipes, são convocados, via de regra, técnicos com estudos da matéria, e as instruções esclarecem, para cada caso, o modo de proceder.
      Por fim, minha última recomendação a quantos assistiram a este Curso - o Folclore, dizia Saint’yves, é uma disciplina de amor, portanto quem não for capaz de ter pela gente do povo e pelos primitivos essa ternura imensa que sua vida simples e rudimentar nos deve inspirar, não encontrará horizontes para o estudo e muito menos para pesquisa do Folclore.

Fonte:
Por:  Profº Renato Almeida.
Anuário Folclore 1978
Revisão 2002 – LFRabatone



Curiosidades
FOLCLORE  - VISUAL URBANO
O nosso mundo novo vive sob o signo das comunicações. Urge que a renovação se realize em todos os aspectos. Não há tempo para mensagens complicadas que exigem um trabalho moroso de decodificação. Qualquer usuário da língua comunica e se faz entender. Isto significa que, de um modo geral, todos usamos do mesmo código ao enviar nossas mensagens.
     Atualmente, mais do que nunca, a língua tomou-se um elemento vivo, dinâmico, sujeita, portanto, às influências internas e externas que ocorrem em seu processo evolutivo. A fala, comunicação oral, sempre aparece antes da língua, comunicação escrita e normativa. Por isso, recebe, diretamente, a marca de seu usuário. Nesse sentido, explica-se o fato de muitos desses falantes criarem um código próprio para sua comunicação.
     Nos anos 60, até os dias de hoje, assistimos a uma renovação em defesa de uma comunicação mais livre. Sem falar dos códigos não verbais, como senhas e gestos de profundo valor semiótico, contamos com um vocabulário próprio, constituído de interessantíssimas palavras. Essas pertencem a determinado grupo e como tal funciona comunicativamente entre os indivíduos que ao grupo pertencem.
     Por outro lado, parece que a ânsia de liberdade em seu sentido mais amplo transparece no modo de comunicarmos. As palavras saem de suas classificações normais, seguindo uma trajetória completamente livre. Jóia, legal, transa, é meu!, tô numa boa, qual é a tua?, Pode crer!, Faz parte!, Certo mano!,  Maneiro!, Fala sério!, Pagar mico!, E aí!,  Qualé!,  são exemplos típicos de que rebelamos contra os "-ismos" que a cultura tradicional tenta impor-nos. Mas, os neologismos são justificáveis, se levarmos em consideração que eles são conseqüência do choque entre os "-ismos" de um lado e o individualismo, de outro. Ai a situação se agrava, para a língua é claro. Ela é unidade e por isso deve ser preservada.
     O nominalismo é válido, desde que empregado em contextos onde falante e ouvinte possuam seus códigos pré-estabelecidos.
     Reconhecemos na explosão dos visuais colocados nos pára-brisas e pára-choques dos carros, o nosso folclore urbano.   Essencialmente, estamos diante de linguagem, se compararmos com aquela dos pára-choques de caminhões. A única diferença se dá por uma questão de espaço: no pára-choque ou no pára-brisa, a mesma filosofia, o mesmo desejo de explicar as coisas e o mundo.
     Temas como: 20 ver, 100 destino, 80 ção, 100 dinheiro; K-petão, K-cetada; Batida, só de pinga com limão; Hei de vencer, mesmo sendo professor; Bramalogia; Corintiologia; Mulherologia; Estou rezando 1/3 para achar 1/2 de levar você a ¼; e mais recentemente:  Xiqui no úrtimo; Aqui só entra avião; são exemplos válidos, se entendermos que os limites do regional, em seu nível mais profundo, tangenciam o pensar de outros seres excluídos do contexto cultural civilizado. Ou, que nesses indivíduos predomina a função imaginativa que reveste ou afasta o real, gerando a interpretação folclórica.
     Concluindo: um grupo tem necessidade de criar um código ou códigos para se comunicar. O perigo está no fato de não se respeitar a unidade lingüística. Faz-se necessária uma distinção entre a comunicação oral e a língua escrita. Cabe aos meios de divulgação de comunicação de massa policiar a norma culta brasileira. Os ataques à gíria e aos neologismos não levam a nada. Também não se trata de tomar partido daqueles que entendem comunicação, a partir de modelos clássicos e rígidos, distantes da realidade lingüística.  O mais válido é adotarmos a idéia de escolher entre os modelos literários contemporâneos aqueles que mais satisfaçam as nossas exigências atuais. Essa sim, parece-nos seja uma tomada de posição coerente, uma vez que recoloca a norma culta como um processo dinâmico e historicamente condicionado. Tem mais não...

Por: Prof. Mauricio César Alves Pereira
(Departamento de Folclore – Olímpia-SP - 1978)



PRESERVAR E REVITALIZAR

O patrimônio cultural do mundo compreende também as tradições orais, as línguas, a música, a dança, as artes do espetáculo, o artesanato, os costumes, as crenças, etc. Para numerosas sociedades, inclusive as minorias culturais e as
populações autóctones, estas dimensões do tecido cultural evoluem ao contato com outras culturas, através das migrações, da mídia, e mais recentemente da Internet. A mudança é fonte de riqueza , mas também de empobrecimento. Às vezes, por força de empréstimos, ou porque submetidas a fortes pressões de outras culturas, algumas desaparecem para sempre. Já desde muito tempo a UNESCO está atenta à preservação de certas formas frágeis de expressão cultural, e hoje sua missão adquire maior amplidão.

Como o lembra a célebre frase do filósofo mali Hampaté Bâ: "Quando morre um velho na África, é uma biblioteca inteira que se queima", a expressão tradicional e popular é salvaguardada na memória dos homens. Ela só pode sobreviver pelos elos humanos da transmissão de geração em geração ou, mais recentemente, graças aos registros mecânicos. A natureza efêmera do patrimônio imaterial o faz vulnerável. Portanto, é urgente agir.
ORIENTAÇÕES PRINCIPAIS

O programa consagrado ao patrimônio imaterial apresenta duas orientações principais. A primeira concerne às línguas, à segunda interessa mais particularmente ao "savoir-faire" [música, dança, folclore..]. No domínio do patrimônio oral, música, dança, folclore e "savoir-faire" dos artesãos
tradicionais, a UNESCO ajuda os Estados-membros a desenvolver uma estratégia para a salvaguarda do patrimônio imaterial através da implementação da Recomendação sobre a salvaguarda da cultura tradicional e do folclore.

No domínio das línguas a UNESCO concentra suas ações sobre a salvaguarda das línguas em perigo, a promoção das línguas de grande comunicação, e o encorajamento à adoção, a nível nacional, de políticas lingüísticas multilinguais, para que todo indivíduo possa falar uma língua local, uma língua nacional e uma língua internacional. É por isto que a Organização ajuda os Estados-membros a preservar seu patrimônio cultural imaterial, notadamente aplicando as diretivas da Recomendação sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular. Favorecendo a adoção de formas de arte e de expressão tradicionais aos necessitados do mundo moderno, a UNESCO espera enriquecer o presente e o futuro com os tesouros do passado.
VIVER AS CULTURAS

A cultura é o fluxo de significações criadas, co-produzidas e permutadas pelos povos. É ela que nos torna capazes de edificar patrimônios culturais e viver em suas lembranças.
Ela nos permite reconhecer nossos elos com nossa linhagem, nossa comunidade, nossa família lingüística, nossa nação – sem falar da própria humanidade. Ela nos ajuda a dar sentido a nossa vida. Mas a cultura pode também nos levar a fazer de nossas diferenças os estandartes da guerra e do extremismo. Ela não deve pois jamais ser considerada como uma evidência, mas traduzida com cuidado em formas de complementação positiva. A cultura não é nunca estática: cada indivíduo produz obras e imagens que se fundam no fluxo da história. Hoje, quando povos pertencentes a todas as culturas entram em contato mais estreitos que nunca, se observam mutuamente e se colocam as mesmas questões: como preservar nosso patrimônio cultural? Como nossas culturas plurais podem coexistir num mundo interativo? A missão do Setor de cultura da UNESCO é ajudar os povos do mundo a responder a estas questões. 
[Tradução do Francês: Lázaro Francisco da Silva]
Fonte:
www.folclore.art.br
Fotos e Pesquisa: LFRabatone





::RECOMENDAÇÕES SOBRE O ESTUDO DO FOLCLORE::

Segundo a U.N.E.S.C.O.

O folclore brasileiro é rico em personagens mágicos. Esses seres que habitam o mundo dos mitos e lendas geralmente estão associados à natureza. Algumas dessas histórias chegaram aqui com os povos que colonizaram nossas terras, como os portugueses. Outras nasceram com os índios, súditos por excelência da mãe natureza. Há aquelas que são contadas há décadas e mais décadas sem que ninguém saiba ao certo como surgiram. Surgiram da necessidade que os povos tinham de explicar e justificar fatos e acontecimentos. Com características fantasiosas, impressionantes e surpreendentes, as lendas e os mitos foram o ponto de partida para os conhecimentos científicos. Conhecê-las é viajar pelo reino do folclore com o passaporte carimbado pela embaixada do sonho e da imaginação.

O monjolo e o pilão

O monjolo
O habitante do meio rural procura morar nas proximidades do rio, riacho, lugar onde haja água. Se ele é plantador de milho terá uma das mais prestativas máquinas: o monjolo.
Dizem que o monjolo veio da China. Mas ele foi introduzido no Brasil pelos portugueses. Braz Cubas introduziu o monjolo em Santos – São Paulo.
O monjolo trabalha no Brasil desde a época colonial. É uma máquina rudimentar, movida a água, constando de duas peças distintas: o pilão e haste.
O pilão é escavado na madeira, com fogo. Depois é aparelhado com formão. A madeira usada é a peroba, a canela preta ou o limoeiro.

Vários são os tipos de monjolos: de martelo, de roda, de pé, de rabo, de pilão de água.
O monjolo é o “trabalhador sem jornal”... como diziam antigamente, sem nenhum ganho.
Os caipiras diziam: “trabalhar de graça, só monjolo”.


O pilão
No pilão coloca-se o milho, arroz, café ou amendoim, para socar. A haste do pilão também é feita de uma madeira dura: maçaranduba, limoeiro, guatambu, canela preta ou peroba. A haste compõe-se de duas peças: a haste propriamente dita, onde está escavado o cocho, a mão do pilão e a forqueta, onde se apóia a haste, é chamada de “virgem”.
A água movimenta o pilão. A água, que chega através de uma calha, cai no cocho e quando este fica cheio abaixa com o peso da água elevando a haste. Assim que a água escorre a haste desce pesadamente, socando o que esteja no pilão.
Chamam de “inferno” o poço que fica sob o “rabo” do monjolo... é um inferno de água fira.


Fonte: www.terrabrasileira.net/.../sd-monjolo.html



Você sabe qual é a origem da expressão "santo do pau oco"?
Sabia que a palavra perereca significa, em tupi, "indo aos saltos".?
Aqui vai algumas expressões e ditos populares que a gente fala no dia-a-dia sem saber de onde vieram, mas que são muito úteis na hora da comunicação!

A UNIÃO FAZ A FORÇA
Trata-se de abreviação de um texto bíblico: "É fácil quebrar uma vara, mas é difícil quebrar um feixe de varas". Em latim, a frase é "Vis unita fortior", traduzida em português para "A união faz a força".

CASA DA MÃE JOANA
A mulher que emprestou seu nome ao surgimento dessa expressão foi Joana I (1326-82), condessa de Provença e rainha de Nápoles. Em 1347, ela regulamentou os bordéis de Avignon, onde vivia refugiada. "Casa-da-mãe-joana" virou então sinônimo de prostíbulo, lugar de bagunça;

CUSPIDO E ESCARRADO
Significa que uma pessoa é muito parecida com outra. A frase original, no entanto, é "esculpido em carrara", uma alusão à perfeição das esculturas de Michelangelo, pois carrara, um mármore italiano, era bastante utilizado por ele. O uso popular foi modificando a frase.

DAR UMA DE JOÃO-SEM-BRAÇO
A expressão é usada para designar as pessoas que escapam de fazer alguma coisa, dando uma desculpa que não se justifica. De acordo com o escritor Deonísio da Silva, autor de "A Vida Íntima das Frases", ela teria vindo da época das guerras civis de Portugal. Os feridos e aleijados não podiam trabalhar nem voltar à luta. "Simular não ter um ou os dois braços constitui-se em escusa para fugir ao trabalho e a outras obrigações. Não demorou e a expressão 'dar uma de João-sem-braço' migrou para o rico, sutil e complexo reino da metáfora, aplicando-se a diversas situações em que a pessoas se omite, alegando razão insustentável".

DO ARCO-DA-VELHA
Coisas do arco-da-velha são coisas inacreditáveis, absurdas. Arco-da-velha é como é chamado o arco-íris em Portugal, e existem muitas lendas sobre suas propriedades mágicas. Uma delas é beber a água de um lugar e devolvê-la em outro - tanto que há quem defenda que "arco-da-velha" venha de arco da bere ("de beber", em italiano).

SANTO DO PAU OCO
A expressão surgiu no Brasil no século XVIII, em Minas Gerais. Para escapar dos elevadíssimos impostos cobrados pelo rei de Portugal durante o auge da mineração, os proprietários de minas e os grandes senhores de terras da colônia colocavam parte de seus ganhos no interior de imagens ocas de santos, feitas de madeira. Algumas delas, eram enviadas a parentes de outras províncias, e até de Portugal, como se fossem presentes.

As frases e ditados populares atravessam os séculos em diversas culturas. No Brasil não seria diferente. A questão é que muitas vezes essas expressões são um pouco estranhas e sem sentido, concorda? Mas depois de conferir esta pequena lista de curiosidades você vai entender melhor sobre a origem e os objetivos de cada uma delas:

01. JURAR DE PÉS JUNTOS
A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado pra dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado pra expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.
02. MOTORISTA BARBEIRO
No século XIX, os barbeiros faziam não somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também, tiravam dentes, cortavam calos, etc., e por não serem profissionais, seus serviços mal feitos geravam marcas. A partir daí, desde o século XV, todo serviço mal feito era atribuído ao barbeiro, pela expressão “coisa de barbeiro”. Esse termo veio de Portugal, contudo a associação de  “motorista barbeiro”, ou seja, um mau motorista, é tipicamente brasileira.
03. TIRAR O CAVALO DA CHUVA
No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia pôr o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.
04. À BEÇA
O mesmo que abundantemente, com fartura, de maneira copiosa. A origem do dito é atribuída às qualidades de argumentador do alagoano Gumercindo Bessa, advogado dos acreanos, que não queriam que o Território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas.
05. DAR COM OS BURROS N’ÁGUA
A expressão surgiu no período do Brasil colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café, precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que muitas vezes esses burros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muito difíceis e regiões alagadas, onde os burros morriam afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado pra se referir a alguém que faz um grande esforço pra conseguir algum feito e não consegue ter sucesso naquilo.
06, GUARDAR A SETE CHAVES
No século XIII, os reis de Portugal adotavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes da corte através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves. O número sete passou a ser utilizado devido ao valor místico atribuído a ele, desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o termo “guardar a sete chaves” pra designar algo muito bem guardado.
07. “OK” (okay)
A expressão inglesa mundialmente conhecida para expressar algo que está tudo bem, teve sua origem na Guerra da Secessão, no EUA. Durante a guerra, quando os soldados voltavam para as bases sem nenhuma morte entre a tropa, escreviam numa placa “0 killed” (nenhum morto), expressando sua grande satisfação, daí surgiu a versão mais curta – “OK”.
08. ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS
Existe uma história não comprovada, de que após trair Jesus, Judas enforcou-se em uma árvore sem nada nos pés, já que havia posto o dinheiro que ganhou por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava sem as botas, saíram em busca delas e do dinheiro da traição. Nunca ninguém ficou sabendo se acharam as botas de Judas. A partir daí surgiu à expressão, usada pra designar um lugar distante, desconhecido e inacessível.
09. PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA
A história mais aceitável para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados. Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ele ficou se lamentando e pensando na morte da bezerra.
10. PARA INGLÊS VER
A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, assim, essas leis eram criadas apenas “pra inglês ver”. Daí surgiu o termo.
11. RASGAR SEDA
A expressão que é utilizada quando alguém elogia grandemente outra pessoa, surgiu através da peça de teatro do teatrólogo Luís Carlos Martins Pena. Na peça, um vendedor de tecidos usa o pretexto de sua profissão pra cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente sua beleza, até que a moça percebe a intenção do rapaz e diz: “Não rasgue a seda, que se esfiapa”.

12. O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER

Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D`Argent fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos pra Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou pra história como o cego que não quis ver.

13. ANDA À TOA

Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está à toa é o que não tem leme nem rumo, indo pra onde o navio que o reboca determinar.

14. QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO

Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, se adulterou. Inicialmente se dizia quem não tem cão caça como gato, ou seja, se esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.

15. DA PÁ VIRADA

A origem do ditado é em relação ao instrumento, a pá. Quando a pá está virada pra baixo, voltada pro solo, está inútil, abandonada decorrentemente pelo Homem vagabundo, irresponsável, parasita.

16. NHENHENHÉM

Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os indígenas não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.

17. VAI TOMAR BANHO

Em “Casa Grande & Senzala”, Gilberto Freyre analisa os hábitos de higiene dos índios versus os do colonizador português. Depois das Cruzadas, como corolário dos contatos comerciais, o europeu se contagiou de sífilis e de outras doenças transmissíveis e desenvolveu medo ao banho e horror à nudez, o que muito agradou à Igreja. Ora, o índio não conhecia a sífilis e se lavava da cabeça aos pés nos banhos de rio, além de usar folhas de árvore pra limpar os bebês e lavar no rio as redes nas quais dormiam. Ora, o cheiro exalado pelo corpo dos portugueses, abafado em roupas que não eram trocadas com freqüência e raramente lavadas, aliado à falta de banho, causava repugnância aos índios. Então os índios, quando estavam fartos de receber ordens dos portugueses, mandavam que fossem “tomar banho”.

18. ELES QUE SÃO BRANCOS QUE SE ENTENDAM

Esta foi das primeiras punições impostas aos racistas, ainda no século XVIII. Um mulato, capitão de regimento, teve uma discussão com um de seus comandados e queixou-se a seu superior, um oficial português. O capitão reivindicava a punição do soldado que o desrespeitara. Como resposta, ouviu do português a seguinte frase: “Vocês que são pardos, que se entendam”. O oficial ficou indignado e recorreu à instância superior, na pessoa de dom Luís de Vasconcelos (1742-1807), 12° vice-rei do Brasil. Ao tomar conhecimento dos fatos, dom Luís mandou prender o oficial português que estranhou a atitude do vice-rei. Mas, dom Luís se explicou: Nós somos brancos, cá nos entendemos.

19. A DAR COM O PAU

O substantivo “pau” aparece em várias expressões brasileiras. Esta expressão teve origem nos navios negreiros. Os negros capturados preferiam morrer durante a travessia e, pra isso, deixavam de comer. Então, criou-se o “pau de comer” que era atravessado na boca dos escravos e os marinheiros jogavam sapa e angu pro estômago dos infelizes, a dar com o pau.

20. ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE ATÉ QUE FURA

Um de seus primeiros registros literário foi feito pelo escritor latino Ovídio ( 43 a .C.-18 d.C), autor de célebres livros como “A arte de amar” e “Metamorfoses”, que foi exilado sem que soubesse o motivo. Escreveu o poeta: “A água mole cava a pedra dura”. É tradição das culturas dos países em que a escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase pra que sua memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, portugueses e brasileiros.


 Agora Inês é morta



Diz-se quando chega tarde uma providência.

Inês de Castro era amante de D. Pedro I, antes do mesmo ser rei de Portugal. Ela era filha bastarda de um cavaleiro galego, e tendo irmãos partidários da reanexação de Portugal pelo Reino de Espanha.
Ao morrer a primeira esposa de D. Pedro, D. Afonso IV e seus vassalos passam a temer a influência da galega na vida política do futuro rei. Temendo pela independência de Portugal, D. Afonso IV manda matar Inês e seus três filhos com D. Pedro durante uma viagem do mesmo.
Ao retornar, D. Pedro encontra sua amada Inês morta.
Com a morte de D. Afonso IV, D. Pedro I assume o trono e coroa Inês, sua rainha.
O cadáver de Inês em estado de composição é colocado no trono, e a realeza portuguesa é obrigada a beijar sua mão.



"Pode tentar/ Pode me olhar/ Pode odiar/ Pode até sair batendo a porta/ Que a Inês já é morta do lado de cá." - Batendo a Porta, João Nogueira/Paulo César Pinheiro





Superstições

Quem é que nunca entrou em um casa ou em algum lugar com o pé direito ou não bateu na madeira para isolar o azar? Algumas supertições já fazem parte do dia-a-dia das pessoas, pelo menos de grande parte delas. Elas participam da própria vivencia humana e não há lugar no mundo sem sua inevitável presença. Onde se originaram as superstições e por que as pessoas são tão influenciadas por elas? Resultam normalmente do vestígio de cultos desaparecidos ou da deturpação ou acomodação psicológica de elementos religiosos, condicionados ao tempo e à mentalidade popular.
Em todo o mundo, as superstições variam conforme a época, local, cultura e hábito de vida. Superstições mais comuns: medo de gato preto, não deixar um calçado com o solado virado para cima, não passar debaixo de escada, não vestir roupa pelo avesso, não subir degraus começando com o pé esquerdo. São centenas de gestos ou atos instintivos subordinados à mecânica do hábito, sempre de caráter defensivo ou na tentativa de evitar um mal maior.

As superstições podem dar-se por pensamento (Fazer três pedidos quando se vê uma estrela cadente); por palavras (dizer ISOLA! - quando alguém se referir a um malefício acontecido a outra pessoa); e por atos (levantar da cama com o pé direito para que o dia seja benéfico).
Não se deve confundir superstição com crendice. Acreditar almas penadas, fantasmas, bruxas... não é superstição, é crendice. Superstição é, dependendo de circunstâncias, atribuir poderes maléficos ou benéficos a certos fatos, ou criaturas, animais ou coisas.
Da superstição é que vem o apelo a talismãs, amuletos, esconjuros, orações, benzeduras, tudo para defender do azar ou mau-olhado. Para evitar um azar, é importante bater na madeira ou fazer figa com a mão. Legítima defesa? Quem sabe!
Wanderlino Arruda





HISTÓRIA DO MARACATU CEARENSE
Reprodução de Jean Baptiste Debret.


Segundo fontes históricas e relatos de personagens ilustres de nossa terra, o maracatu cearense já se mostrava presente desde meados do século XIX sendo o mesmo conhecido por “congadas ou pelo auto dos reis de Congo” que retratavam os combates entre o Congo e Angola e que daria origem não só ao maracatu más também a outras expressões culturais afro-decendentes como o reisado, caboclinhos e os pastoris.

Em Fortaleza a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos (1871), responsável pela construção do templo católico mais antigo de nossa capital homenageando santa de mesmo nome, foi a principal difusora desta tradição cultural que se realizava geralmente ao termino das cerimônias religiosas e culminavam com a coroação do rei e rainha negra. Esta mesma irmandade sociabilizava o escravo forro ou cativo a sociedade fortalezense da época e possibilitava aos mesmos; auxílio funeral, pensões a viúvas e a possibilidade de lazer nas horas vagas, sobre tudo, aos domingos e dias santos com o devido consentimento de seus senhores “no caso de escravos cativos”.

O ponto culminante das congadas era a coroação do rei e da rainha negra que vinham acompanhados pelo seu séquito real composto por negros trajando cores bufantes dos mais variados tecidos e representando personagens da corte portuguesa. Em geral tais roupas eram usadas e doadas a irmandade para que pudessem ser realizadas as encenações como vestidos de noivas amplamente usados para caracterizarem as princesas e rainhas.
Em determinadas épocas do ano a irmandade era contratada por senhores de engenho ou pessoas abastadas para apresentar seus autos, tais contribuições eram depositadas em um caixa controlado pelo tesoureiro sendo responsável o mesmo pelo controle dos bens da confraria que consistiam desde casas a terrenos espalhados pela cidade.

Além da referida irmandade que teria sido o ponto original deste folguedo, em fins do século XIX o maracatu também fazia-se presente em diversos pontos da capital. Segundo o escritor Gustavo Barroso, havia por trás da estação férrea João Felipe o maracatu do Morro do Moinho que saia com seu cortejo real pelo centro em direção a igreja do Rosário onde fazia a coroação de seu rei e sua rainha.

“os últimos reis do Congo que houveram em Fortaleza, minha terra natal, foram o negro Firmino, ex-escravo de meu pai e a negra Aninha Gata. Esta conheci ai por volta de 1897 ou 1898, com pequena quitanda na antiga travessa das flores, entre as ruas Major Facundo e a da Boa Vista, hoje Floriano Peixoto. (BARROSO, 1962, P. 374)

Existiam também os maracatus da rua de São Cosme (atual rua Pe. Mororó), da rua do outeiro (antiga Aldeota – atual região do Colégio Militar), do Beco da Apertada Hora (atual rua Governador Sampaio), do Manoel Furtado, do João Ribeiro localizado ao fim da rua Major Facundo na altura da antiga praça do livramento (atual praça do Carmo). Do negro João Gorgulho (grupo de folguedos africanos – 1910). Segundo Otacílio de Azevedo em seu livro: Fortaleza Descalça;

“vestia-se com roupagem de seda colorida, recheada de fitas e arabescos, minúsculas lantejoulas, vidrilhos e brilhantes pedrarias. Os valetes do rei João Gorgulho vestiam calças de cetim verde, justas ao corpo, coletes violetas, clâmide vermelha caindo sobre os ombros e espadas de papelão dourado. O trono, forrado de fofos de papel de seda salpicado de estrelas, tendo à guisa de cetro uma vara coberta de papel dourado, ficava sobre um tapete de palha de carnaúba colorida, a coroa, feita com folhas de flandres, se apresentava pintada com cores diversas”.

O maracatu cearense difere do pernambucano pois o timbre de seus acordes são mais lentos e cadenciados sendo o batuque composto por caixas sem esteiras visando acentuar a batida grave, bumbos, surdos, ganzás, chocalhos e triângulos aqui chamados “ferros” responsáveis pela cadência ou ritmo característico do cortejo. As loas ou “músicas do maracatu” sempre relatam fatos ou acontecimentos históricos ligados à cultura afro regionais ou nacionais constituindo as mesmas no chamado enredo do maracatu. Seus brincantes ou “maracatuqueiros” apresentam seus rostos pintados com uma mistura de fuligem, óleo infantil, talco e vaselina em pasta que dão o tom ao chamado “falso negrume” expressão difundida pelo pesquisador cearense Gilmar de Carvalho. O macumbeiro(a) ou tirado(a) de loas puxa o enredo sendo o mesmo respondido pelo cordão de negras que impulsiona todo o cortejo a imitá-las. Geralmente tais “tiradores de loas” trajam roupas femininas semelhantes as de negrinhas ou “mucamas” reais podendo os mesmos virem trajando branco com suas guias ou amuletos.

O maracatu chegou oficialmente ao carnaval de rua fortalezense por volta de 1937 através de convite feito pelo famoso rei momo Ponce de Leon ao compositor e carnavalesco Raimundo Alves Feitosa conhecido também como Raimundo Boca Aberta fundador do maracatu Az de Ouro (o mais antigo em atividade). Em meados de 1950 seriam fundadas agremiações de imenso peso histórico como: Estrela Brilhante, Az de Espadas, Leão Coroado. Outros grupos já extintos deixaram saudade como; Rancho Alegre, Nação Africana, Rei de Espadas, Rei dos Palmares, Nação Uirapuru, Nação Gengibre, Nação Verdes Mares e Rancho de Iracema


ORGANIZAÇÕES FOLCLÓRICAS
I.O.VInternacional Organization of Folk Art é uma organização mundial, que defende a preservação e promoção da cultura popular, arte popular, e património cultural imaterial.
CIOFF - Conselho International das Organizações de Festivais de Folclore e de Artes Tradicionais.
CIDO Conselho Internacional de Dança é uma organização oficial que congrega todas as formas de dança em todos os países do mundo.
At-TamburEspaço de divulgação de temas relacionados com a cultura tradicional, especialmente Música e Dança Tradicional de Portugal e do Mundo.
O INATEL oferece uma vasta actividade cultural aos seus associados como é exemplo a formação cultural dada a dirigentes associativos, executantes artísticos e para todos através das Escolas do Lazer.


COREÓGRAFO

O profissional que cria as coreografias é denominado coreógrafo e o que registra esses movimentos graficamente é o coreólogo. A coreologia é a escrita da dança, que pode ser em pentagrama (partitura), como no Sistema Benesh ou em símbolos próprios de uma metodologia como, por exemplo, no método Laban Notation. Toda linguagem artística possui elementos estéticos específicos, assim como nas linguagens das Artes Visuais, do Teatro e da Música, a linguagem da Dança também possui seus códigos fundamentais.


VOCÊ SABÍA?
... que no dia 29 de abril é o Dia Internacional da Dança?
... que no antigo Egito já se realizava as chamadas danças astroteológicas em homenagem ao Deus Osíris?

... que o caráter religioso foi comum às danças clássicas dos povos asiáticos?
... que na Grécia Clássica, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos?
... que no século XIX apareceram a contradança (que se transformou na quadrilha), a valsa, a polca, a mazurca, etc?


10 dicas para organizar uma festa junina educativa
É possível fazer uma festa junina legal e ainda comprometida com a aprendizagem das crianças e dos adolescentes

 

Pé de moleque, canjica, curau, pamonha, bolo de milho, quentão, bandeirinhas, fogueira, chapéu de palha, sanfona e arraiá. Sim, estamos falando de festa junina. Todo mês de junho é assim: tiramos do armário as camisas xadrez e os vestidos de chita, pintamos sardinhas nas meninas e bigodinhos nos meninos e vamos satisfeitos para a festa na escola, pensando em todos os quitutes deliciosos que nos aguardam.

Esquecemos o principal: o significado da festa. Você conhece as origens das festas juninas? Sabe por que comemos tantas iguarias de milho e de onde vêm as danças? E o colégio do seu filho, aproveita as festas juninas para preencher buracos na grade horária e engordar o caixa ou utiliza os festejos para ensinar alguma coisa para as crianças?

Embora seja uma tradição consagrada e rica da cultura popular, muitas escolas organizam festas de São João, Santo Antonio e São Pedro que pouco, ou nada, contribuem para a aprendizagem dos alunos. O Educar Para Crescer consultou alguns pedagogos e um antropólogo e elencou algumas dicas para garantir que a sua festa junina seja uma verdadeira aula.

Qual a origem da festa junina? Descobrir isso pode ser o primeiro passo para a contextualização da festa. E é importante motivar os alunos a buscarem esta resposta. Saber que a tradição vem dos festejos de agradecimento aos santos pela colheita do meio do ano e que, por isso, a maioria dos quitutes é feita de milho, por exemplo, pode despertar neles o interesse pela história. "É necessário recuperar o porquê da tradição da quadrilha, das comidas, da fogueira, para que a festa junina não vire uma mera caricatura do mundo da roça", diz o antropólogo Jadir de Morais Pessoa, professor titular da Universidade Federal de Goiás, especialista em folclore.
Homem do campo não é Jeca Tatu. É importante apresentar o campo de uma nova maneira. Tirar o olhar de deboche sobre o caipira, manifesto muitas vezes pelas roupas exageradas ou por posturas imbecilizadas. "Trazer uma pessoa da roça para contar dos saberes, descaricaturizar o homem rural. Festejá-lo como sujeito portador de saberes", indica o antropólogo Jadir de Moraes.
Um dos elementos mais importantes das festas juninas são as danças e as músicas populares. Muitas escolas contratam profissionais especializados em cultura popular para valorizar e aprofundar esse universo e desenvolver com os alunos as danças e as canções típicas. Elas não se limitam a contratar sanfoneiros e conjuntos para meras apresentações, fazem mais: colocam os alunos para dançar e até para criar as músicas. "No colégio Vera Cruz, trabalhamos há 10 anos danças típicas de todo o Brasil. As crianças de 5 anos apresentam a "Congada", dança de Minas Gerais; as de 6 anos dançam o "Bumba meu Boi", do Maranhão; e as de 7 anos fazem a tradicional quadrilha", conta Elizabeth Menezes, professora de educação corporal do colégio Vera Cruz.
A festa junina pode ser ótima oportunidade também para apresentar novos instrumentos musicais para as crianças.
No Vera Cruz, a professora traz instrumentos folclóricos como a caixa do Divino Espírito Santo, a matraca, os gungas e os chocalhos. "O mais lindo é ver o quanto as crianças aprendem. Esse ano um aluno criou uma música que nós vamos utilizar na dança: "Um triângulo, dois quadrados, céu e terra, sol e chuva formam o planeta terra de todo mundo", emociona-se a professora, cantando a canção do aluno Theo Vendramini Sampaio, de 5 anos.
Como motivar os estudantes e trazê-los para o projeto? A escola Viva, de São Paulo, utilizou, neste ano, um recurso muito simples: fixou painéis por toda a escola. Os cartazes, confeccionados pelos próprios alunos, traziam curiosidades e atraiam a atenção para o evento. "Foi uma maneira de despertar a atenção nos mais novos. Os painéis traziam informações do tipo: você sabe por que tem fogueira na festa junina? Além disso, traziam fotos dos professores em festas juninas, quando crianças. A brincadeira era adivinhar quem era o professor", disse Marta Campos, coordenadora geral do Ensino Fundamental I da Escola Viva.
As festas juninas escolares devem ser feitas por e para os alunos. O objetivo é estimular o senso de autonomia e de cooperação, reforçando a importância do trabalho comunitário na escola. Para isso, é importante envolver os estudantes em todo o processo, desde a confecção dos estandartes e bandeirinhas à organização das brincadeiras. "Todos os alunos estão envolvidos na organização da festa. Mas alguns têm responsabilidades maiores. Eles coordenam os preparativos, fazem reuniões com a diretoria, apresentam relatórios e tem autonomia para decidir", afirma Wanilda Tieppo, assistente de direção da escola da Vila.
A preparação da festa pode e deve estar atrelada ao conteúdo aplicado em sala de aula. Na escola Oswald de Andrade, por exemplo, cada classe é responsável por uma barraca e cada barraca apresenta transversalmente o projeto trabalhado em classe. "A turma que está estudando os alimentos, por exemplo, preparou uma barraca relacionada ao assunto", destaca Roberta Ferrari Rodovalho, coordenadora assistente do Colégio Oswald de Andrade, de São Paulo.
Uma das tradições da festa junina são as brincadeiras: pescaria, boca do palhaço, jogo da argola, corrida de sacos, pau de sebo, entre outros. Os jogos juninos são a grande diversão da garotada e podem ser uma boa maneira de transmitir valores de cidadania para os alunos. Dois bons exemplos de valorização do lúdico acontecem nas escolas Vera Cruz e Oswald. Na primeira, as próprias crianças são responsáveis pela confecção das prendas. "Elas fazem colares, cadernos, trabalhos em argila e todo tipo de brinquedos. Vale tudo, o importante é a participação", diz Elizabeth Menezes. Já no Oswald, não há brindes para os vencedores. "O objetivo é estimular a brincadeira pela brincadeira", conta Roberta Ferrari Rodovalho, coordenadora assistente do colégio Oswald de Andrade, de São Paulo.
A participação dos pais e familiares é importante para as festas juninas em vários aspectos. Para começar, quando comparecem os pais estimulam a criança e reforçam a auto-estima. Mas eles também podem contribuir na organização. No Colégio Oswald de Andrade, por exemplo, os pais conjuntamente com os filhos são convidados a preparar e a trazer os comes e bebes. "A participação dos pais é muito importante para nós. Cabe a eles trazer as comidas, que ficam todas dispostas em uma mesa. O lanche é comunitário, não tem custo, é só chegar e pegar", diz Roberta Ferrari Rodovalho, assistente de direção do Colégio Oswald.
É muito importante não atrapalhar a rotina e a programação escolar por causa da festa. A começar pela escolha da hora e da data do evento. Não pode ser no horário letivo. O melhor é fazer aos sábados, domingos ou depois das aulas. "Nunca fazemos nossas festas em período letivo, temos um programa a seguir e não descumprimos. As festas juninas acontecem sexta-feira à tarde, único dia da semana que não funcionamos em período integral", explica José Carlos Alves, diretor do Colégio de Aplicação do Pernambuco, escola pública com a segunda melhor média no Enem e 14ª colocada no ranking nacional.

Samba de parelha: mulheres dançam São João sem os homens
No interior de Sergipe, elas usam vestidos de chita e os pés vão marcando o compasso, no ritmo dos tamancos. A tradição tem raízes na África e foi inventada por escravos refugiados em quilombos.

Santo Antônio casa, São João batiza. Essa é a crença dos católicos. Em Corumbá, Mato Grosso, o batismo é na cachoeira. No interior de São Paulo, os santos se encontram em uma procissão. As tradições juninas se manifestam em todo o Brasil. Mas é no Nordeste que as noites de junho esquentam de alegria.
Do bumba meu boi, no Maranhão, ao samba de parelha no interior de Sergipe. Na pracinha do vilarejo, elas chegam dançando e cercam a fogueira. Vestidos de chita, cheios de babados. Os pés vão marcando o compasso. O autêntico samba de São João é no ritmo dos tamancos. Essa tradição sergipana tem raízes na África. Foi inventada por escravos refugiados em quilombos.
No começo não era assim, não. As mulheres dançavam com os homens. Mas aí começou a confusão, uma ciumeira danada quando elas trocavam de pares. A solução foi afastar os homens do samba.
Eles foram obrigados a concordar. Do contrário, seus casamentos estariam ameaçados, diz a líder do grupo. A agente de saúde Marizete dos Santos revela que se os homens fazem falta na dança. “Sim faz, mas assim eles têm que entender que o lugar deles é tocar", ressalta Marizete.
E mesmo assim os homens só tocam porque as mulheres ainda não quiseram aprender. Por isso, o agricultor Aloisio Paulo dos Santos, conhecido como ‘Aloísio do Tambor ‘e seu João Batista dos Santos, conhecido como ‘João da Cuíca’, são as exceções. Só não podem entrar na dança.
Quando perguntado se não tem vontade de sambar um pouco, Aloisio logo responde. "Tenho, mas não posso. Fazer o que?”.
O lavrador João Batista dos Santos também gosta de samba. “Ave Maria, eu adoro,” diz.
As cantigas são puxadas pela aposentada Nadir dos Santos. Mas não é só isso. É ela também que compõe as músicas. “É tudo eu que faço e eu sou analfabeta e não tenho vergonha de ser. Não sei nada, nem assinar o nome. Faço música para meu grupo. A minha memória que é muito boa. Aí eu analiso tudo na cabeça, vou pensando, vou cantando devagarzinho, aí falo pras meninas, a gente faz uma reunião, explica a aposentada.
O grupo logo aprende as letras das músicas de Nadir e o samba só para no fim da madrugada.
As crianças também se divertem soltando fogos. Aos homens, resta assistir e aplaudir.



Chá do padroeiro dos casamenteiros faz milagre e acaba com a solteirice

O principal ingrediente são pedaços do mastro da bandeira de Santo Antônio. Ele deve ser tomado em gotas durante 13 dias e dosado com 13 gotinhas


Final feliz depois de uma longa espera. A balconista Adriana Sousa agradece: “muito obrigado por ter me ajudado a realizar o meu sonho”.
Adriana fez muitas simpatias. Bebeu o chá casamenteiro e pôs uma lasca do mastro da bandeira de Santo Antônio na roupa do noivo. “A raspinha do pau ficou no meu bolso há oito anos. O santo é forte”, brinca o noivo da balconista.
Para agradecer, o casamento foi na igreja matriz de Santo Antônio, em Barbalha, uma das mais concorridas do Ceará. “Não é normal uma paróquia todo sábado e domingo ter dois ou três casamentos e aqui isso acontece”, revela o Cícero Alencar, pároco da igreja de Santo Antônio de Barbalha.
Mas por que será que o Santo Antônio de Barbalha é tão eficiente? O Globo Repórter foi investigar.
Não dá pra vir a Barbalha e deixar de conhecer a mais famosa solteira da cidade. Ela sabe todas as simpatias sobre o santo casamenteiro. E é em uma casa, com Santo Antônio na fachada, que mora a rainha das solteironas de Barbalha.
Há dez anos, a advogada Socorro Luna coordena a festa das solteironas de Barbalha. Ela é mestre na criação dos kits de primeiros socorros para as mulheres encalhadas. E inventou muita coisa. “Nossa, Santo Antônio me deu inspiração pra isso”, diz.
Tudo é feito com pedacinhos do mastro da bandeira de Santo Antônio que passa o ano inteiro em frente à igreja. O kit milagre é objeto de desejo das desesperadas. “Ele contém o pedaço da casca do pau, a medalhinha da sorte, que diz: ‘Santo Antônio, tende piedade de nós, as solteironas’, a medalhinha de Santo Antônio e a oração que diz: ‘Oh, glorioso Santo Antônio, protetor das encalhadas, arranjai-me um namorado que seja bom, fiel, trabalhador e que tenha pressa para o matrimônio”, relata a advogada.
Enquanto reza, dá para reforçar o pedido tomando o chá casamenteiro. O principal ingrediente são pedaços do mastro da bandeira de Santo Antônio. Mas a advogada diz que o chá tem contraindicação. “Ele é contraindicado às pessoas avessas ao casamento. Melhor não tomar, o conselho que eu dou”.
Socorro é observada com muito interesse. A empresária Sandra Mendes veio de São Paulo para tomar a poção milagrosa. “Eu ouvi muitas pessoas falando, eu resolvi experimentar mesmo, eu queria fazer o teste, agora está na hora, né? Está na hora de um bom casamento e eu vim pra conseguir isso”, afirma a empresária.
Depois de pronto, o chá deve ser tomado em gotas. “Se a solteirice for aguda, tem que beber durante os 13 dias, 13 gotinhas, quatro vezes diárias. Eu acho que o da Sandra é com 13 gotas e já está resolvido”, brinca Socorro Luna.
Um ingrediente pode ser usado à vontade: fé. Sandra Mendes revela que tem fila de espera para o chá em São Paulo. “As minhas amigas já me ligaram. Sandra, traz o chá, traz o tercinho, traz tudo que agora a gente desencalha”.
A barraca das solteironas e o chá casamenteiro fazem o maior sucesso na festa de Santo Antônio. Tem até fila e muita disputa. Todo o dinheiro arrecadado na barraca vai para a igreja.
Quem leva Santo Antônio a sério não tem do que se queixar. Namorador inveterado, o engenheiro civil Roberto Machado Leite Machado não queria que a namorada experimentasse o chá casamenteiro. Na festa do ano passado, a cientista política Cláudia Helena Jorge conseguiu driblar o noivo e comemora o primeiro mês de casada.
Ela diz que Santo Antônio a ajudou com o noivo. “Ele era um playboy. Era assim: uma namorada por noite, mais ou menos isso e, depois, não gostava de falar nem em casamento. Quando eu falava em casamento ele sumia, mudava de assunto, não queria saber”, relata a cientista política.
Essa era a vida do engenheiro civil, antes do chá. “Depois desse chá, eu passei, nem estava me reconhecendo, pensando em casar, programando casamento, organizando a festa”, afirma Roberto Machado.
Hoje o engenheiro civil reconhece: Santo Antônio tem poder. “Tem mesmo. Até a minha cadernetinha eu doei no dia de casamento com os telefones. Os telefones estavam guardados a sete chaves e eu disse: vou sortear a cadernetinha. Aí joguei pra trás, seja feliz quem pegou”, conta.
Mas por que esse chá é tão poderoso? Área rural de Barbalha. Os homens se juntam em torno de uma tradição. Eles trazem o tronco da maior árvore que encontram que será o mastro para a bandeira de Santo Antônio.
Na estrada de terra, cobertos de poeira, eles vão se revezando. É um sacrifício de homens simples que buscam a força na fé. O mastro gigante de 24 metros é levado nos ombros numa procissão barulhenta. Na cidade, os moradores esperam com festa.

Barbalha é famosa no Ceará por produzir a festa junina mais tradicional do estado. Consegue juntar diversão, fé e as mais autênticas manifestações da cultura do povo. Para reverenciar o santo padroeiro, os moradores se vestem com as cores da tradição e as ruas da cidade se transformam num palco gigante.
Tem bacamarte, banda de pífano e mais de 50 grupos folclóricos que desfilam numa grande celebração popular. A festa de Barbalha conta com o talento e o suor dos moradores.
A caminhada heróica dos carregadores do mastro dura um dia inteiro. São 150 carregadores e uma missão pesadíssima: levar o mastro de quase três toneladas a uma distância de nove quilômetros.
Parando e seguindo os carregadores chegam às ruas centrais de Barbalha quando já está escuro. Foram mais de 10 horas de muito esforço. Agora, a multidão acompanha passo a passo. Diante da igreja, a oração. Mais um ano de louvor e de gratidão a Santo Antônio.
Dez e meia da noite, mastro levantado, bandeira do santo hasteada, missão dos trabalhadores cumprida, mas para as mulheres determinadas a arranjar um marido o ritual não terminou. Elas continuam aqui de plantão, arrancando com as unhas uma pequena relíquia: lascas do mastro de Santo Antônio.
“Muita fé. Vamos lá. Como pau de Santo Antônio a gente vai atrás. Vamos confiar, vamos confiar nele”, diz a enfermeira Cecília Alves.
E se todas as simpatias não funcionarem com Santo Antônio, ainda tem uma saída. Enquanto Santo Antônio é super requisitado, outro santo que também tem vocação para arranjar casamentos é pouco lembrado. Em Altos, no Piauí, quem tem o título de casamenteiro é outro. Ele fica no centro do altar: São José.
O vaqueiro piauiense Hortêncio Viana, de 48 anos, quer dar um basta à vida de solteiro. E ele faz o pedido, cantando. “São José é um grande santo e é nosso mensageiro. Amigo de Santo Antônio que é um santo casamenteiro. Dai, para mim, um casamento que ainda eu estou solteiro”.
“A diferença de São José é que ele arranja marido bom. Santo Antônio arranja marido, mas não é tão bom como São José”, conta a agente de saúde Maria da Silva.
Sempre cuidadoso, com o menino Jesus no colo, São José aguarda o momento de dividir com o atarefado Santo Antônio a sobrecarga de pedidos de matrimônio. Se a fama de São José se espalhar, o padre Juscelino Sousa explica que não haverá problema.
“Aí não é concorrência porque todos fazem parte da mesma família”, revela o padre aos risos.

Tradições das festas juninas produzem mais do que diversão

Essa festa movimenta tanto a economia do Nordeste que tem lojas que funcionam apenas no mês de junho e passam o resto do ano fechadas.

Nenhuma outra festa deixa o nordestino tão alegre. Nada neste mundo envolve tanto esse povo. Não há ritmo mais animado. Não há dança mais colorida. A inspiração vem do céu: da proteção de São Pedro; da luz de São João Batista; da fé em Santo Antônio. A festa da roça invade pequenas e grandes cidades. São João é sinônimo de trabalho, renda, além de fartura no campo.
O xaxado do cangaço, a graça do baião e a tradição das quadrilhas juninas produzem mais do que diversão. A jovem Tatiana é um dos exemplos de que essa farra funciona até como terapia. Ela não ouve e não fala, mas aprendeu tão bem todos os passos que até o pai, experiente forrozeiro, se surpreendeu. "Eu achava que jamais ela poderia participar disso", comenta o comerciante João Cardoso Filho.
A depressão e a tristeza desapareceram da vida de Tatiana. "Mudou o temperamento dela. Normalmente a pessoa surda é agitada, mas ela hoje é mais calma, mais alegre”, diz o pai dela.
Quem vê as roupas caipiras de tantas cores não imagina o trabalho que dá. Nos ateliês especializados, as máquinas de costura não param nesta época. A costureira Vanderléia Maria de Assis trabalha dia e noite para dar conta das encomendas. Ela faz as fantasias de cinco quadrilhas. "Cobro R$ 80 por uma fantasia”, conta Vanderléia. Sem o movimento de maio e junho, o ateliê já teria fechado. "Em dois meses, ganho o equivalente a um ano inteiro de trabalho", revela. Ganha e ainda emprega. Duas costureiras e um estilista foram contratados só para o São João.
Essa festa movimenta tanto a economia do Nordeste que tem lojas que funcionam apenas no mês de junho e passam o resto do ano fechadas. Em uma delas, o negócio é alugar roupa caipira. O sucesso começou na inauguração. Quando a loja abriu as portas... "Era muita gente de uma só vez. O pessoal não dava conta. Foi muito bom”, conta a comerciante Edenilda Vasconcelos.
São 500 peças de roupa no estoque e nenhuma fica encalhada. "Com o dinheiro desse aluguel, posso ficar o resto do ano sem trabalhar. Vale a pena. É um bom negócio", afirma Edenilda. Negócio bom também é plantar milho na terra molhada, no Dia de São José, e colher em junho, antes da fogueira. O milho é o principal ingrediente dos festejos juninos. Sem ele, o agricultor nordestino não teria motivos para homenagear São João. E quando a chuva não falha, em meados de junho a espiga já está com os grãos maduros, no ponto de fornecer a comida.
Mas nem sempre é assim. A agricultora Maria do Carmo Barbosa sabe o que é um São João sem milho. "Já trabalhei muito na enxada, passei muita fome e até pedi para comer", conta. Mas este ano ela não tem do que se queixar: a chuva trouxe colheita farta e preço bom. "Este ano não tem tristeza", comemora a agricultora.
Pamonha e canjica são iguarias que não podem faltar. A receita é à base de popa de milho maduro, açúcar, sal, coco e manteiga. Só o cheiro já é de dar água na boca. "Comprei minha casa e um carro", diz a comerciante Cenice Reis.

Homens carregam tronco com 2 toneladas para homenagear Santo Antônio

O motivo: ajudar as mulheres da cidade a encontrar marido. O padre abençôa os participantes e o tronco. A reza fortalece. A árvore precisa chegar ao centro da cidade.

Santo Antônio é festejado com muito entusiasmo na cidade cearense de Barbalha, onde é padroeiro. O dia começa com banda de música, fogos e passeata. Os homens têm uma difícil missão: carregar um tronco de jatobá com mais de duas toneladas e 23 metros de comprimento. O motivo: ajudar as mulheres da cidade a encontrar marido. O padre abençoa os participantes e o tronco. A reza fortalece. A árvore precisa chegar ao centro da cidade.
Pela tradição, os homens têm que carregar o pau da bandeira nos ombros. O peso vai aumentando a cada passo. Em alguns momentos, fica insuportável, e o tronco acaba desabando no chão. Desistir? Nem pensar. O descanso é só por alguns instantes. Logo eles retomam a caminhada em direção à igreja. “Vamos chegar lá sãos e salvos, ainda hoje”, afirma um deles.
O dia já está acabando quando eles chegam ao fim do percurso. São quatro quilômetros de caminhada e seis horas para chegar até a cidade de Barbalha com o pau de Santo Antônio. Um ritual místico-religioso que se repete há mais de 80 anos. A partir dali, a multidão acompanha até a frente da igreja matriz.
As mulheres disputam os melhores lugares. Quem fica na frente do cordão de isolamento tem mais chance de romper o cerco e convencer a polícia. Elas lutam para chegar perto. Tudo só pelo desejo de tocar na madeira, passar a mão. Diz a lenda que a mulher solteira que consegue arranja logo um marido.
“Agora vou ter que casar, seja como for”, diz uma solteira.
“Há três anos eu pego e nada”, lamenta outra.
E da casca do pau, surge outra simpatia: chá de jatobá. Para as solteironas, é bom reforçar a dose. “A solteirona que toma arranja marido com certeza. Quando não arranja marido, arranja um vidão", garante a advogada Maria do Socorro de Luna.
“Eu vim de João Pessoa só para ver se me caso. Só falta esse chá", conta a consultora de vendas Ana Paiva Montenegro. O namorado de Ana já está quase convencido. Agora vai ser difícil adiar o casamento. “Agora ele casa”, diz ela. “Não escapo mais. Com o santo não tem jeito, é sobrenatural", completa o comerciante Flaviano Almeida.
Para as solteiras mais experientes, o chá é a última esperança. “Nunca me casei, estou aqui para ver se este ano eu desencalho”, conta a professora Luci Souza.
A festa só acaba quando o tronco do jatobá é erguido na praça da Matriz de Santo Antônio.
Santuário de pedra
Em Fagundes, na Paraíba, todo ano a caminhada começa pela manhã. É uma romaria de três quilômetros por caminhos cheios de lama. Para eles, é um lugar sagrado. Misticismo e religiosidade. A romaria é sempre no Dia de Santo Antônio.
Homens e mulheres que vivem da esperança vão pedir ajuda ao santo casamenteiro. Diz a crença que o sonho só se torna realidade se o devoto passar pelo buraco da pedra. E não é fácil cumprir a tarefa. É preciso se arrastar na travessia pelas fendas estreitas da rocha. É a medida do sacrifício. E uma vez só não basta. Para que tudo dê certo, o ritual tem que ser repetido três vezes.
A imagem de Santo Antônio teria aparecido dentro da gruta há dezenas de anos. A notícia se espalhou, e a pedra virou um santuário. "Vou passar porque eu tenho fé no meu Santo Antônio. Sou viúva, já casei três vezes e vou atrás de um novo casamento", conta a dona de casa Dolores Gerôncio dos Santos.
A professora Gerlane Menezes não se arrepende de ter enfrentado o sacrifício e passar sob a pedra. "Eu passei e casei. Nossa fé é o principal", comenta.
Fé ou coincidência, a verdade é que a vendedora Eliandre Barbosa encontrou seu noivo logo na saída da pedra.
“Lá mesmo eu o conheci. Começamos a conversar melhor e estamos juntos até hoje – graças a Deus e com a ajuda de Santo Antônio”, comemora Eliandre.
Casamento coletivo
No Dia de Santo Antônio, 51 noivas se prepararam para um casamento coletivo. Uma banda caipira tocou a marcha nupcial. A igreja foi o templo do forró em Campina Grande. E o juiz de direito oficializou o casamento.
"É de livre e espontânea vontade que pretendem contrair o casamento civil?”, perguntou. E todos responderam “sim”. A comemoração começou ali mesmo, no pátio do forró.
Vovós em festa
Avós que são devotas do santo casamenteiro retribuem com alegria e música as graças alcançadas. O pífano é o instrumento mais característico das festas na roça, na zona rural do Nordeste.
Na cidade de Caruaru, agreste de Pernambuco, foi criada a banda de pífanos das senhoras da terceira idade. Na banda de pífanos, elas reconquistaram a alegria de viver. “Fico doidinha dentro de casa não vejo a hora de tocar”, diz a aposentada Maria Francisca da Silva.
O pífano é feito de bambu e tem a forma de uma flauta. Elas se realizam tocando pífanos, zabumba e triângulo nos ritmos de São João. “Antes disso eu ficava no canto como uma velha. Mas hoje em dia eu não sou mais velha, sou uma criança”, garante dona Maria Francisca.
“É uma alegria, um prazer, um divertimento. Eu me sinto com 12 anos”, diz a aposentada Romana Maria de Lima.
A aposentada Angelina Serafim da Silva, a zabumbeira do grupo, marca o ritmo da banda. “É o mais importante, porque quando eu começo as meninas acompanham”, ressalta.
Para essas mulheres, a festa não trouxe só a alegria. Devolveu a auto-estima, que já estava esquecida há muito tempo. 

São João gera cerca de 60 mil empregos temporários no Nordeste

Trabalhadores rurais aposentados estão ganhando dinheiro no São João como figurantes da festa. Até quem está preso consegue ganhar dinheiro.

Pedreiros, carpinteiros, pintores, artistas: nessa festa, só não trabalha quem não quer. O São João gera cerca de 60 mil empregos temporários. Até quem está preso consegue ganhar um dinheirinho. No Presídio Serrotão, em Campina Grande, Paraíba, as celas são laboratórios do forró. Francisco é sanfoneiro; Evaldo Basílio dos Santos é zabumbeiro; Zenaldo toca triângulo; Oscar Costa é cantor e compositor. Eles cumprem pena por homicídio e assalto, mas encontraram na música o caminho de uma vida longe do crime.
Quarteto formado, Oscar é só inspiração. Já criou 150 músicas. “Essa inspiração vem de tristeza, desgosto, saudade", diz ele. Se sentindo abandonado pela família, Oscar transforma a tristeza em música. “Quando eu me lembro, chega a doer no coração. Passo o dia no portão, ninguém vem me visitar”, canta.
Eles têm tempo para ensaiar de sobra. Apoio da direção do presídio também. O reconhecimento está começando a aparecer. "Recebemos muitos convites. As pessoas nos dão parabéns por esse trabalho", orgulha-se Evaldo.
No início do mês, eles assinaram o primeiro contrato. Três vezes na semana o grupo sai do presídio para tocar na cidade.
Para o quarteto de presidiários, São João é muito mais do que festa e dinheiro: é também uma chance rara de ver a vida fora do presídio. É reencontrar, mesmo por poucas horas, aquilo que eles mais desejam: a liberdade. A viagem é em um camburão. Mas não demora muito, eles desembarcam no centro de Campina Grande.
O show é em uma pracinha. No público, professores e alunos de uma escola de forró. Os guardas do presídio ficam atentos: um olho na dança e outro no quarteto.
Oscar não perde a chance de mostrar suas músicas. "Eles são ótimos”, elogia uma espectadora. “É maravilhoso”, concorda outra.
A aprovação deixa o grupo emocionado. "As pessoas sempre viram as costas pra gente. Por isso, ficamos muito felizes quando somos aplaudidos pelo público", comenta Oscar.
Rufino Carneiro e Inácia Araújo estão felizes. Os dois trabalhadores rurais aposentados estão ganhando dinheiro no São João como figurantes da festa. Ela, mostrando como se faz renda de bilros em um sítio cenográfico montado em Campina Grande. Ele, na casa de farinha, torrando a massa, serviço que aprendeu quando era menino.
Hoje, aos 80 anos, seu Rufino ainda consegue passar três horas seguidas trabalhando no calor do forno. "Isso para mim é café pequeno”, brinca seu Rufino. “Se eu parar de mexer, o pó da farinha queima e o camarada não me paga.” Ele ganha R$ 70 por dia. Na agilidade diante dos visitantes, se lambuza de farinha.
Representando a autêntica rendeira do sertão, dona Inácia é muito admirada. No ano passado, ela ganhou R$ 500 por esse serviço. "Estou construindo a minha casinha com o dinheiro daqui", conta. Ela já conseguiu levantar as paredes e sonha em deixar de pagar aluguel ainda este ano. "Se não der para terminar, vou ficar perto disso. Eu não quero ganhar só os R$ 500, quero mais."
Como dona Inácia e seu Rufino, milhares de sertanejos encontram nas festas juninas a chance de melhorar de vida, além de muita alegria.



FESTAS E FOLCLORE BRASILEIRO

REGIÃO SUL
Danças: congada, cateretê, baião, chula, chimarrita, jardineira, marujada.
Festa tradicionais: Nossa Senhora dos Navegadores, em Porto Alegre; da Uva, em Caxias do Sul; da Cerveja, em Blumenau; festas juninas; rodeios.
Lendas: Negrinho do Pastoreio, do Sapé, Tiaracaju do Boitatá, do Boiguaçú, do Curupira, do Saci-Pererê. 
Pratos: churrasco, arroz-de-carreteiro, feijoada, fervido. Bebidas: chimarrão, feito com erva-mate, tomado em cuia e bomba apropriada.

REGIÃO SUDESTE
Danças: fandango, folia de reis, catira e batuque. 
Lendas: Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Iara, Lagoa Santa. 
Pratos:
 tutu de feijão, feijoada, ligüiça, carne de porco. 
Artesanato: trabalhos em pedra-sabão, colchas, bordados, e trabalhos em cerâmica.

REGIÃO NORTE
Danças: marujada, carimbó, boi-bumbá, ciranda. 
Festas: Círio de Nazaré (Belém), indígenas. 
Artesanato: cerâmica marajoara, máscaras indígenas, artigos feitos em palha. 
Lenda: Sumaré, Iara, Curupira, da Vitória-régia, Mandioca, Uirapuru. 
Pratos: caldeirada de tucunaré, tacacá, tapioca, prato no tucupi.anônima.

REGIÃO NORDESTE
Danças: frevo, bumba-meu-boi, maracatu, baião, capoeira, caboclinhos, bambolê, congada, carvalhada e cirandas. 
Festas: Senhor do Bonfim, Nossa. Senhora da Conceição, Iemanjá, na Bahia; Missa do Vaqueiro, Paixão de Cristo, em Pernambuco; romarias - destaca-se a de Juazeiro do Norte, no Ceará.

REGIÃO CENTRO-OESTE
Danças: tapiocas, congada, reisado, folia de reis, cururu e tambor.
Festas tradicionais:
 carvalhada, tourada, festas juninas. 
Lendas: pé-de-garrafa, Lobisomem, Saci-Pererê, Ramãozinho. 
Pratos:
 arroz de carreteiro, mandioca, peixes.





 No interior de Sergipe, elas usam vestidos de chita e os pés vão marcando o compasso, no ritmo dos tamancos. A tradição tem raízes na África e foi inventada por escravos refugiados em quilombos.
Santo Antônio casa, São João batiza. Essa é a crença dos católicos. Em Corumbá, Mato Grosso, o batismo é na cachoeira. No interior de São Paulo, os santos se encontram em uma procissão. As tradições juninas se manifestam em todo o Brasil. Mas é no Nordeste que as noites de junho esquentam de alegria.
Do bumba meu boi, no Maranhão, ao samba de parelha no interior de Sergipe. Na pracinha do vilarejo, elas chegam dançando e cercam a fogueira. Vestidos de chita, cheios de babados. Os pés vão marcando o compasso. O autêntico samba de São João é no ritmo dos tamancos. Essa tradição sergipana tem raízes na África. Foi inventada por escravos refugiados em quilombos.
No começo não era assim, não. As mulheres dançavam com os homens. Mas aí começou a confusão, uma ciumeira danada quando elas trocavam de pares. A solução foi afastar os homens do samba.
Eles foram obrigados a concordar. Do contrário, seus casamentos estariam ameaçados, diz a líder do grupo. A agente de saúde Marizete dos Santos revela que se os homens fazem falta na dança. “Sim faz, mas assim eles têm que entender que o lugar deles é tocar", ressalta Marizete.
E mesmo assim os homens só tocam porque as mulheres ainda não quiseram aprender. Por isso, o agricultor Aloisio Paulo dos Santos, conhecido como ‘Aloísio do Tambor ‘e seu João Batista dos Santos, conhecido como ‘João da Cuíca’, são as exceções. Só não podem entrar na dança.
Quando perguntado se não tem vontade de sambar um pouco, Aloisio logo responde. "Tenho, mas não posso. Fazer o que?”.

O lavrador João Batista dos Santos também gosta de samba. “Ave Maria, eu adoro,” diz.
As cantigas são puxadas pela aposentada Nadir dos Santos. Mas não é só isso. É ela também que compõe as músicas. “É tudo eu que faço e eu sou analfabeta e não tenho vergonha de ser. Não sei nada, nem assinar o nome. Faço música para meu grupo. A minha memória que é muito boa. Aí eu analiso tudo na cabeça, vou pensando, vou cantando devagarzinho, aí falo pras meninas, a gente faz uma reunião, explica a aposentada.
O grupo logo aprende as letras das músicas de Nadir e o samba só para no fim da madrugada.
As crianças também se divertem soltando fogos. Aos homens, resta assistir e aplaudir.